Receber os senhores da guerra

porRicardo Robles

22 de janeiro 2010 - 0:00
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Desde o fim da guerra fria e, sobretudo, após o 11 de Setembro a Nato inverteu o seu discurso fundador de protecção dos países aliados, contra a ameaça escondida atrás da cortina de ferro, e passou a fundamentar a sua acção bélica na "consensual" luta contra o terrorismo. Este argumento permite justificar todas as atrocidades e ilegalidades cometidas por esta organização dirigida estrategicamente pelos EUA. Todos os crimes são aceites e justificados. Justifica intervenções de patrulhamento do Mediterrâneo de caça aos emigrantes. Permite a existência de prisões secretas, como a de Bagram no Afeganistão onde, há vários anos, são mantidos 645 detidos, alguns menores de idade, e que apenas este mês se conheceram os seus nomes. Prova a necessidade absoluta da corrida ao armamento dos dois lados do Atlântico e autoriza sem discussão a criação de bases militares em pontos estratégicos do globo. Fundamenta toda a operação no Afeganistão, que já contabiliza milhares de vítimas entre a população e que destrói o pouco que restava daquele país.



A guerra no Afeganistão é neste momento a principal ofensiva da Nato e está a tornar-se um atoleiro de tropas sem fim à vista. No mesmo momento em que recebia o prémio Nobel da Paz no final de 2009, Obama expedia mais 30 mil soldados para aquela guerra. Um reforço que não garantirá qualquer avanço militar sobre a Al Quaeda, mas que pelo contrário contribuirá para fortalecer este narco-estado na liderança da produção mundial de ópio, no topo dos países mais corruptos do mundo e um governo resultante de uma fraude eleitoral sem igual.



Perante isto, o governo de José Sócrates, sempre preocupado com a despesa pública, apressa-se a dar uma mãozinha aos Senhores da Guerra. No início de Janeiro, o ministro Luís Amado garantiu em entrevista que o empenhamento de Portugal no Afeganistão "não pode ser olhado pela Nato com particular reserva" e que por isso irá reforçar com mais 150 soldados a sua participação, para além da força militar que já está em acção no Kosovo há alguns anos. O ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, também já afirmou que enviará uma força militar para a Somália no primeiro trimestre deste ano integrando uma força da U.E..



É por tudo isto que até Novembro nos vamos juntar com todos e todas que estiverem dispostos a enfrentar esta Cimeira da Guerra. No sábado, dia 23/1, reunimo-nos às 15h na Crew Hassan em Lisboa na assembleia da Plataforma Anti-Guerra e Anti-Nato. Enquanto José Sócrates aguardar pelos convidados na passadeira vermelha, ouvirá as palavras de ordem repetidas noutras cimeiras "No to war - No to Nato". A alternativa é a que sempre escolhemos, a Paz.

Ricardo Robles
Sobre o/a autor(a)

Ricardo Robles

Engenheiro civil.
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