Quebrar o ciclo de violência

porJessica Pacheco

24 de dezembro 2022 - 22:38
PARTILHAR

O ciclo de violência doméstica é conhecido pelas suas três fases: aumento de tensão, ataque violento e lua-de-mel. Estes ciclos de violência são mais comuns em situação conjugal, onde as mulheres são as principais vítimas, mas de uma forma geral os ciclos de violência estão a disseminar-se na sociedade.

O ciclo de violência doméstica é conhecido pelas suas três fases: aumento de tensão, ataque violento e lua-de-mel.

O aumento de tensão, criado pelo agressor, gera um ataque violento, que pode ser físico, emocional e psicológico, que tende a escalar na sua frequência e intensidade. Após esta fase ocorre a lua-de-mel, onde o agressor envolve a vítima de carinho e atenções, tentando desculpar-se pelas agressões, prometendo alterar o seu comportamento.

Este é um ciclo pelo qual muitos e muitas passam, na expetativa de uma mudança, que regra geral nunca chega. Este é um ciclo que se prolonga no tempo e se repete vezes e vezes sem conta, culminando em fases de violência cada vez mais longas e que em situações limite pode levará inclusivamente à morte da vítima.

Estes ciclos de violência são mais comuns em situação conjugal, onde as mulheres são as principais vítimas, mas de uma forma geral os ciclos de violência estão a disseminar-se na sociedade.

Os seres humanos não nascem violentos, a violência vai sendo gerada pelos contextos e pela forma como nos organizamos na sociedade.

É possível alcançar uma sociedade mais empática, que em conjunto se mobiliza para se melhorar e proteger os seus.

Infelizmente a nossa sociedade segue o pior dos exemplos - a mentalidade dos caranguejos. Esta é uma metáfora que nos deve levar a refletir sobre a forma como nos posicionamos uns em relação aos outros. Se tivermos um caranguejo preso num balde sozinho, ele realizará várias tentativas e conseguirá sair de lá, no entanto, se colocarmos este caranguejo com outros no mesmo balde, o que tenta sair de lá será puxado pelos outros fazendo que nenhum consiga sair, garantindo a morte coletiva do grupo. Se todos se empenhassem no seu objetivo, sairiam todos do balde com vida.

O controlo, a diminuição da confiança do outro, a competição e a fome de poder gera tensão que inicia o ciclo.

As mulheres são as principais vítimas de todas as formas de violência, por isso urge que se trabalhe na sociedade para encontrar formas de eliminar todas as formas de violência.

Recentemente foi aprovada a proposta do Bloco de Esquerda, no parlamento dos Açores, com medidas de apoio à vítima de violência doméstica, nomeadamente a adaptação das casas abrigo existentes para vítimas com algum tipo de incapacidade, a inclusão de ligação para denúncia na App da Proteção Civil dos Açores e o atendimento 24h/dia da linha de apoio à vítima. Este foi mais um passo dado para prevenir e combater este crime hediondo.

Mas o trabalho não deve ficar por aqui. É preciso uma visão global na luta pela não violência, é preciso também lutar pelas mulheres de outros contextos, que nascem com padrões em que lhes são negados os seus próprios direitos, promovendo casamentos entre meninas e adultos, abusos sexuais, mutilações genitais, uma vida de clausura e submissão. Temos de ser a voz destas mulheres. Os direitos humanos não se resumem ao que nos é próximo, mas ao global, ao que é de todos e de todas!

Só assim quebraremos de uma vez por todas o ciclo de violência, que ceifa imensas vidas femininas todos os anos.

Jessica Pacheco
Sobre o/a autor(a)

Jessica Pacheco

Enfermeira e presidente da VegAçores-Associação Vegana dos Açores.
Termos relacionados: