Que tempo este…!!!

porDeolinda Martin

12 de novembro 2024 - 19:11
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Os tempos são adversos para quem defende transparência, justiça e combate às desigualdades, mas somos dos que não desistem, dos que resistem, cá estaremos para não lhes darmos tréguas!!

É com alguma tristeza que olho o mundo no dia de hoje, as notícias que nos chegam são avassaladoras, entre catástrofes naturais, mortes às mãos da polícia, as eleições nos Estados Unidos da América, a posse dada a Maria Luís Albuquerque, deixam-me muito preocupada em perceber como iremos restaurar a esperança e a alegria fundamentais ao dia a dia de quem acredita que o caminho só se faz com luta e resistência.

Da catástrofe que ocorreu no país vizinho, o maior registo que me ficou, foi que no meio daquele horror, e, enquanto o governo da autonomia regional de extrema direita permanecia silencioso, nada fazia, o povo pôs-se a caminho e a pé ou com tratores, fosse de que forma fosse, apareceu de todos os lados para aliviar o peso do sofrimento e desespero daquela população, mostrando-lhes o rosto de humanidade e solidariedade fundamentais para se juntarem forças que ajudem na reconstrução do que foi destruído, na aceitação dos inúmeros familiares e amigos que se perderam… Ainda é o momento de enterrar os que morreram e ajudar os que sobreviveram, mas será fundamental pensar-se como foi possível acontecer esta tragédia? Que erros de construção, que políticas ambientais, que respeito por áreas onde há linhas de água potenciadoras de cheias… olhemos cá para dentro, para o nosso país, e vejamos se não teremos cidades e populações expostas a situações com esta gravidade… Sou da opinião que a prevenção é sempre boa conselheira!

A Amadora viveu mais uma situação de grande violência: a morte de um munícipe às mãos da polícia! Os bairros voltaram a encher os noticiários pelas piores razões: a extrema direita, o racismo estrutural teve palco, não é que ele tinha roubado o carro e, vejam lá, atreveu-se a virar-se à polícia ameaçando-o com uma faca… os comentários foram medonhos… Entretanto, afinal não era bem assim, o carro era do alvejado, foi atingido quando estava manietado no chão. Ah…, mas esta imagem que altera tudo, já não mereceu o primeiro destaque, só que os bairros começam a ter voz e indignaram-se, exigiram justiça, penso que se o não tivessem feito, a história não teria sido alterada… tudo isto deixou vítimas, deixou bens tão duramente conquistados, muitas vezes com salários de miséria, destruídos. A quem se envia a fatura de tudo isto? A Câmara da Amadora manteve-se silenciosa neste processo, esperou que a onda passasse, vergonhoso! Afinal era um munícipe seu! Não os polícias não são todos iguais, trabalham em condições muito precárias, mas que sejam apuradas devidamente as responsabilidades e que se faça justiça!

Das Eleições dos Estados Unidos não me vou atrever a aprofundar o tema perante tanto comentador e tantos programas a alimentarem-se disto, mas porque é que Biden não se demitiu quando se percebeu a sua fragilidade pessoal? Porque não entregou a governação a Kamala Harris? Porque é que o Partido Democrata se deixou arrastar para uma solução improvisada de candidatura? Porque é que ela não foi mais incisiva nas questões do Médio Oriente e da Ucrânia? Nas questões de economia? Pareceu-me que a todos interessou que, no dia 6, Trump, fosse o grande vencedor! Aguardemos, iremos precisar de grande resistência para o que vier nos próximos tempos…

Ontem, ouvi de manhã a Catarina Martins, no Parlamento Europeu a descrever à Senhora Troika, Maria Luís Albuquerque, que impôs ao país medidas de empobrecimento acelerado coletivo nos anos em que foi ministra da Finanças portuguesas, todas as portas giratórias que atravessou e conflitos de interesses até chegar indigitação para comissária europeia. Esta senhora que nos atirou para um buraco sem fundo no passado, irá agora, entre outras responsabilidades, gerir fundos de pensões. Perante a intervenção da Catarina, o expectável seria que não passasse na apreciação da sua qualificação para o cargo… erro, passou, foi aprovada! Onde fica a seriedade política? Onde fica o resguardo do exercício de cargos públicos de forma isenta?

Estejamos atentos e vigilantes, os tempos são adversos para quem defende transparência, justiça e combate às desigualdades, mas somos dos que não desistem, dos que resistem, cá estaremos para não lhes darmos tréguas!!

Deolinda Martin
Sobre o/a autor(a)

Deolinda Martin

Professora aposentada. Dirigente sindical.
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