Em primeiro lugar, qualquer solução alternativa das esquerdas deve ser estável e para isso precisa de ser coerente. A coerência deriva de um programa comum aceite por todos e que faça realmente a diferença. Um governo alternativo terá de ter alternativas e não ser mais do mesmo. Por outras palavras, um "arranjo" instrumental sem força de mudança iria desiludir por décadas todos aqueles e aquelas que hoje clamam legitimamente por um governo das esquerdas. Ou é para mudar a política e a vida, ou não vale a pena.
Em segundo lugar, a estratégia da luta por um governo de esquerda tem de ser explicitamente enunciada: existem quatro condições fundamentais, que são simultaneamente a garantia do seu sucesso e a marca da sua credibilidade: rasgar o memorando, anular a dívida ilegítima, recuperar salários e pensões e controlar o crédito.
Esta solução é necessária e urgente, mas o PS está a bloqueá-la. Quando António José Seguro se recusa a alinhar numa moção de censura das esquerdas (tal como o Bloco propôs) ou quando exige que tal acordo respeite o memorando da troika (que é precisamente o motor da atual violência económica e social), na prática pretende inviabilizar qualquer entendimento para uma mudança a sério. O principal obstáculo reside pois no sacrossanto respeito da direção do PS face ao memorando, o que implica aceitação dos cortes salariais, da desregulação laboral, das privatizações e das machadadas no estado social. O PS apenas defende uma austeridade mais pequenina...
Um governo de esquerda é mais do que uma aritmética eleitoral: é uma alternativa ao rotativismo de décadas que destrói a credibilidade da política.