O Governo aprovou um pacote de incentivos fiscais a seis empresas industriais estrangeiras que operam em Portugal. Segundo informa o Diário de Notícias, “os benefícios ajudam a assegurar um investimento previsto de 515 milhões de euros”, embora, mais adiante, o ministro Manuel Caldeira Cabral já só fale em 215 milhões. “Rigor” jornalístico, como se vê…
A justificação genérica para este bodo natalício é a de que, com a benesse, o “Governo segura 1800 postos de trabalho” no nosso país. A conversa do costume.
Curioso é que, entre as empresas estrangeiras contempladas com incentivos fiscais, se encontre a Celtejo, a empresa de Vila Velha de Ródão que, segundo o próprio Governo, vem poluindo gravemente o rio Tejo.
De Ródão à Barquinha, passando por Mação; de Abrantes a Santarém, frequentemente ficam à vista as nefastas consequências da poluição: a água do rio apresenta-se escura, acastanhada, e enormes manchas de espuma branca flutuam sobre o leito.
O historial de derrames é longo e, em Ródão, só não vê quem não quer os volumosos efluentes escuros e mal cheirosos, saídos do emissário da Celtejo implantado no meio do rio, mesmo em frente à vila.
A jusante desse ponto, quase desapareceu toda a fauna piscícola. Os lagostins, ganha-pão dos poucos pescadores que ainda resistem, já só aparecem a montante, lá mais para os lados de Espanha.
Entretanto, a empresa tem laborado e retirado lucros com pesados custos ambientais que atingem todos.
Há tempo, o Governo exigiu que a Celtejo realizasse investimentos que reponham o funcionamento da empresa dentro de padrões ambientais sustentáveis. Esses investimentos estarão a ser realizados. Muito bem.
Porém, subsiste algo de muito estranho por explicar. E, agora, há também algo que se nos afigura inaceitável.
Antes de mais, não se percebe a razão por que, estando o Governo acompanhar o caso de perto, os derrames prossigam, como se houvesse uma tácita garantia de impunidade.
Depois, não se aceita que seja o Orçamento do Estado a comparticipar, pela via das isenções fiscais, nos investimentos da Celtejo… para despoluir.
Esta história continua a cheirar mal.
Artigo publicado no semanário “Correio do Ribatejo”