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Orgulho LGBTI

A verdadeira inclusão social de todas as orientações sexuais e identidades de género faz-se também, e sobretudo, na praça pública.

Afirmar que nada se tem contra homossexuais, pessoas transgénero e intersexuais, logo que se mantenham longe da vista de todos, ou seja, fora do espaço público, para que se evite qualquer manifestação, quer de afeto entre pessoas do mesmo sexo, quer a visibilidade do corpo e da personalidade de quem transgride o status quo daquilo que é desejável socialmente, é exatamente ter tudo contra homossexuais, pessoas transgénero e intersexuais.

Esta atitude de remeter a expressão da homossexualidade para o domínio exclusivo do privado cai, pura e simplesmente, na mesma exclusão social a que homossexuais foram condenados, em tempos não muito longínquos, em que eram tidos como pecadores, depravados e doentes mentais.

Pessoas transgénero e intersexuais foram, e continuam a ser, obrigadas ao silêncio e a conformarem-se ao corpo com o qual nasceram, em total desconsideração pela sua perceção e sentido de género, só porque se teima em achar que o género se encontra limitado a um conjunto de caráteres sexuais primários e secundários correspondentes a sexos distintos associados a papéis sociais igualmente distintos e estanques. Quem ousa desafiar tal lógica dominante, porque sofre num corpo que não sente como seu, é etiquetado como uma aberração, um doente e um invertido, obrigado a esconder a sua condição e, tal como o(a)s homossexuais, é excluído(a) do espaço público e mantido longe da vista de todos.

Se homossexuais, pessoas transgénero e intersexuais não fossem vítimas de discriminação, incluindo a sua exclusão do espaço público, não seria, decerto, necessário apelar ao orgulho lésbico, gay, bissexual, transgénero e intersexo (LGBTI), nem haveria a necessidade de todos aqueles que defendem uma sociedade verdadeiramente inclusiva (incluindo heterossexuais) se manifestarem em espaços públicos.

A concentração de apoio à comunidade LGBTI que decorreu sábado passado, na nossa Praça Velha, é uma reivindicação do direito a expressarmos, no espaço público e à vista de todos, o que somos e o afeto pelas pessoas que amamos, independentemente da nossa orientação sexual.

Porque a verdadeira inclusão social de todas as orientações sexuais e identidades de género faz-se também, e sobretudo, na praça pública, achar dispensável a manifestação pública contra a discriminação em função da orientação sexual e de género é fazer um favor ao preconceito e à discriminação disfarçados do recato que leva à invisibilidade social do(a)s homossexuais, das pessoas transgénero e intersexuais.

Uma verdadeira sociedade inclusiva não esconde quem é diferente, nem confunde diferença com doença, pois, pese embora toda a evolução na garantia dos direitos que assistem às pessoas LGBTI, ainda persistem preconceitos e mitos que continuam a catalogar de doença o que não é mais do que a expressão da diversidade da natureza.

Sobre o/a autor(a)

Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Membro do Bloco de Esquerda Açores. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
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