Rosa Luxemburgo dizia que os parlamentares revolucionários deveriam falar para as janelas do parlamento, de modo a fazerem-se ouvir pelas pessoas. Cavaco Silva fala para o Palácio, tão certo dos pequenos pormenores de salão; das decisões encriptadas e da minúcia em gerir o seu percurso político, favorecendo as políticas de direita radical, mas fingindo sempre ser o provedor dos mais fracos.
Cavaco Silva vive no e para o palácio. Por isso, do alto do seu incomensurável narcisismo, esquece a realidade do país e o sentido da sensatez. Ao fazê-lo, contribui para uma generalizada aversão à política e aos políticos. As suas atitudes, para além de uma raiz cultural e ideológica (baseada na hipocrisia da “honradez” salazarista das “pequenas poupanças”), já anteriormente plasmada aquando do escândalo dos preços de favor com que lhe foram vendidas as suas ações do BPN, ou aquando da teimosia em demitir Dias Loureiro do Conselho de Estado, levam a que as pessoas desconfiem das instituições e dos seus protagonistas. Como se fosse tudo igual; como se o pântano se colasse a todos os que atuam na esfera pública, como se os favores, as regalias, os truques, fossem apanágio de quem está ligado aos partidos.
Hoje, mais do que nunca, urge separar o trigo do joio; analisar crítica e cuidadosamente a torrente de informação; comparar comportamentos, práticas e discursos. E desmentir o chão fascista do boato vil, as suas repercussões em cadeia, sem qualquer preocupação de rigor e verdade, e informar, informar sempre, com humildade e sentido de serviço, provando que nem todos são iguais, que há nobreza em quem se bate contra a exploração, a corrupção e a mentira; que há quem persista, pleno de honradez, em viver com os seus, como os seus e em seu favor, cumprindo ideais e sonhos. Há mais vida para além do palácio.
