Num dos seus últimos artigos de “combate” ideológico publicado no Público, Pacheco Pereira põe o dedo na ferida. Depois de fazer a autópsia dos mil e um grupos que, segundo ele, compõem essa grande massa dos “indignados” (fragmentado em dezenas de grupúsculos e micromovimentos que o autor faz questão de minuciosamente recensear incorrendo, contudo, em alguns erros de identificação – talvez se lhe exigisse um mais aturado trabalho de campo…), vaticina que, boa parte deles, quer apenas a ruína do capital financeiro para bailar sobre os seus escombros. De alguma forma, insinua Pacheco que estes grupos (que estão longe, muitos deles – agora sou eu quem o afirma - de serem movimentos sociais, uma vez que se deslocam por motivações difusas, contraditórias e, em alguns casos, antagónicas) seriam a guarda-avançada do Bloco de Esquerda. Se Louçã, marxista envergonhado, não pode incendiar as ruas com a sua verve revolucionária, falando, recuadamente, em “economia injusta”, saltariam então estas moléculas de agitação para potenciarem, traduzirem e extremarem os receosos propósitos desta turba que ainda não ousou fazer saltar da gaveta a sua hirsuta barba.
Mas quando estas novas e nervosas aranhas confluem para o rio grosso e histórico dos velhos movimentos sociais (uma vez mais identificados na e pela CGTP), então o reacionário historiador coloca a hipótese das coisas mudarem de figura.
Em suma, é o próprio Pacheco Pereira quem o reconhece: a estruturação dos sindicatos pode mesclar-se com estes novíssimos movimentos que fazem da rede um dispositivo de comunicação e uma metáfora de organização. Juntos, cresce a possibilidade de transformarem as energias tão frequentemente desorientadas e populistas das multidões mais encantadas consigo próprias do que com a mudança social, num crescendo que começa a tocar, uma a uma, nas teclas podres do piano da crise, para descobrir o cheiro nauseabundo da exploração capitalista na era da sua globalização financeira.