O papel do Bloco na Ciência e Ensino Superior

porAna Isabel Silva

09 de setembro 2023 - 0:33
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O governo, apesar das sucessivas oportunidades que teve desde 2015, decidiu continuar a promover a precariedade na ciência, pondo a prazo as vidas dos seus investigadores.

A política científica do Partido Socialista não tem trazido novidades na forma como se posiciona em relação à precariedade dos investigadores. O governo, apesar das sucessivas oportunidades que teve desde 2015, decidiu continuar a promover a precariedade na ciência, pondo a prazo as vidas dos seus investigadores. Agora, com maioria absoluta, o Partido Socialista, não surpreendentemente, mantém estas escolhas. Mas agora esta maioria absoluta permitiu-lhes aprofundar a sua visão liberal no ensino superior e ciência.

É exatamente neste campo que está a acontecer uma disputa cultural e ideológica. Nas instituições de ensino superior onde o neoliberalismo tem entrado na sua maior força, onde tem sido ensinado que a competição e a falta de solidariedade é o futuro que devemos ambicionar. Mas a esquerda projeta outro futuro.

Imaginar, discutir e dar força a essa visão é ainda mais importante quando temos no governo um Partido Socialista que tem o mesmo projeto neoliberal que toda a direita para a Universidade e para a ciência. Quando o objetivo para este ano é de que pelo menos - reforço o pelo menos -, metade dos doutoramentos do nosso país sejam conduzidos em empresas: isto é ideologia liberal. Querem um conhecimento subserviente e à mercê das empresas, mesmo sabendo que isso põe em causa a criação do mesmo. Quando Augusto Santos Silva diz que o PS é a expressão do liberalismo em Portugal não está a mentir. Quando dizem que a solução é que os investigadores portugueses vão buscar financiamento lá fora, à União Europeia, desresponsabilizam-se do investimento que devem fazer, deixam de levar o país a sério.

Esta disputa cultural e ideológica tem um dos seus expoentes máximos no famoso Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES). A ministra da Ciência e Ensino Superior diz que é necessário rever o RJIES e que esta revisão tem de ser altamente participada. Até aí estamos de acordo. Mas é exatamente nesta revisão que temos 2 projetos antagónicos para a Universidade. O do Partido Socialista e de toda a direita, que é de garantir que esta participação ampla é, na verdade, feita apenas pelos reitores resultando numa maior liberalização do regime que rege as Universidades. Ou então o da nossa esquerda, que é de passar a Universidade para a esfera pública, garantindo assim um conhecimento de usufruto público e que respeita quem o produz.

É nesta luta de ideias e de valores que a nossa participação é tão importante, imprescindível até. Para garantir que esta revisão não resulte apenas numa maior autonomia das instituições sem escrutínio nem respeito pelos trabalhadores. Aliás, sabemos bem o que tem significado esta maior autonomia das Universidades quando, em resposta a casos de assédio, a resposta da ministra da Ciência e Ensino Superior é que é a partir dessa autonomia que cada Universidade tem de dar resposta a estas queixas Com efeito, esta solução apenas resulta no silenciamento de vítimas de assédio no Ensino Superior, reféns das dinâmicas de poder e da precariedade.

Ao mesmo tempo que nos pedem soluções para o futuro, dão-nos contratos curtos, nenhuma estabilidade e poucos direitos. Sobre como o investimento e a aposta na ciência e nos seus trabalhadores é tão importante não me esqueço que Catarina Martins esteve sempre ao lado dos investigadores e lembro-me quando explicava que só com respeito pelos seus trabalhadores é que o país pode garantir massa crítica para responder aos desafios do futuro. Sabemos tão bem que a precariedade diminui a capacidade de massa crítica e a capacidade de resposta do país e como se perde a capacidade de mobilização para um futuro melhor.

Por tudo isto, o Bloco é cada vez mais imprescindível na nossa democracia e a nossa responsabilidade acrescida. Uma responsabilidade acrescida por sermos os únicos capazes de apresentar e de lutar por um outro futuro para a Universidade e para a sociedade. Que valoriza o conhecimento, o emprego e que quer massa crítica. Sabemos bem como o Bloco é o único espaço onde conseguimos imaginar um mundo melhor, repleto de pessoas que não têm medo de sonhar mas muito menos têm de falar, levantar a voz e lutar pela sua concretização. É este o motivo pelo qual me juntei ao Bloco e é aqui que encontro as pessoas que imaginam e lutam por um futuro melhor.

Ana Isabel Silva
Sobre o/a autor(a)

Ana Isabel Silva

Bioquímica e investigadora doutoranda no I3S
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