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O “modelo” do PS ou os silêncios que matam

Ao que parece, o “modelo” dos economistas (liberais) que fizeram o documento do PS gosta de números, mas não de todos.

Nem uma única reflexão sobre a dualização crescente da sociedade portuguesa: no nosso país, a desigualdade na distribuição do rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres voltou a aumentar entre 2010 e 2013 (+1,7 pontos), invertendo-se a tendência de diminuição da amplitude da desigualdade. Na verdade, em 2013, os 10% mais ricos da população auferiam um rendimento 11,1 vezes superior ao dos 10% mais pobres – em relação a 2012, houve um aumentou 0,4 pontos percentuais. Portugal não atingia um valor tão elevado neste indicador desde 2005. Em termos de coeficiente de Gini, Portugal apresenta um coeficiente de 34,2%, acima da média UE-28 (30,5%), sendo com a Bulgária (35,4%), Letónia (35,2%), Lituânia (34,6%) e Grécia (34,4%), um dos países europeus com a distribuição de rendimentos mais desigual.

Se analisarmos a evolução do número de desempregados que não recebem qualquer subsídio de desemprego, verificamos que o nível de desproteção no desemprego aumentou de forma brutal nos últimos anos. A partir do último trimestre desse ano até ao final de 2013, mais de metade do número de desempregados não recebe qualquer subsídio, fixando-se este indicador no último período em 54,4%. Mas o documento quer, na verdade, facilitar os despedimentos. João Machado, da CAP, afirma ao Público que António Costa deu garantias: "Também nos foi garantido que, a par da abolição dos contratos a prazo, tal como está hoje presente na lei, haverá flexibilização laboral em outras áreas, no sentido de permitir que contratos de curta duração possam continuar a existir".

Os números da pobreza e das desigualdades não cabem no modelo do PS, que é liberal. Por isso não se fala no salário mínimo ou no Alfa e Omega da questão social: a reestruturação da dívida. Estes silêncios matam.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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