O medo…Temos de combater o medo… diariamente!

porDeolinda Martin

13 de dezembro 2024 - 16:44
PARTILHAR

Os tempos que atravessamos, a selva que se instalou no desrespeito pelos direitos de quem trabalha, exige um sindicalismo combativo e duro, só assim faremos frente ao capitalismo selvagem, que hoje tem como rosto uma extrema direita que procura vingar-se.

Um dia destes, deslocava-me tranquilamente para uma iniciativa no Fórum Lisboa, quando, de repente, começo a ouvir uma chuva de impropérios, em plena Avenida de Roma, de um homem cinquentão, que parou o carro no meio da via e que da porta do carro, aberta, agressivamente se dirigia a um alvo feminino…. Meia atordoada olhei em volta, pensando que horror para aquela mulher ser tratada daquela forma! Só, quando vi os olhares com quem me cruzava a observarem-me, alguns com preocupação, é que me apercebi, finalmente, que o alvo era eu! Procurei rapidamente encontrar a razão para merecer tamanhos insultos, não tinha feito nada, ou melhor, tinha, exibia com orgulho o meu símbolo de solidariedade com o Povo Palestino e isso, só isso, foi a cavilha para a detonação daquela reação intempestiva e agressiva! Mas, ainda a pensar se valeria a pena retorquir na mesma moeda, um casal aproximou-se de mim e, em tom de voz percetível, aconselhou-me a seguir o meu caminho, eles acompanhar-me-iam! E assim foi…quando entrei no Fórum ainda tremia…

Porque vos conto esta pequena história? Porque esta semana, a extrema direita a que este agressor pertencia, inequivocamente, nos ofendeu coletivamente, ao colocar panos que tratavam de forma vil aqueles a quem confiamos os nossos votos! Voltei a sentir-me agredida porque o fazem regularmente, de forma impune, manchando a Casa da Democracia, com episódios que só a diminuem e que a pouco e pouco, a vão fragilizando! Em minha opinião, nenhum deputado ou deputada se deveria ter sentado no hemiciclo, sem que aquela vergonha tivesse sido retirada das janelas! No tempo do governo de Passos Coelho, porque várias mulheres gritaram “Vergonha”, quando quiseram propor que quem recorresse à Interrupção Voluntária da Gravidez, assinassem uma ecografia do feto, tiveram de cumprir serviço comunitário porque foram acusadas de terrorismo! E agora, de que serão acusados os responsáveis pelo crime dos panos na janela? Que se faça justiça, basta de impunidade!

Assisti incrédula, às declarações do presidente do Sindicato dos Bombeiros, que após a invasão das escadarias do Parlamento, viram as reuniões de negociação interrompidas com a justificação de que o governo não negoceia sob pressão! Pois, estes homens e mulheres que arriscam a vida pelo bem coletivo, que ganham uma miséria, trabalham sob condições precárias, dormindo muitas vezes ao relento para assegurarem o combate aos incêndios, para mim, ganharam todo o direito a afirmarem no futuro, que também “não trabalham sob pressão” pois, eles sim, têm todos motivos para se sentirem esmagados pelas inúmeras situações não resolvidas. E ao Presidente do Sindicato deles, que só se poderia esperar que se orgulhasse de quem ainda tem capacidade para a indignação e assumir-se como representante de tais trabalhadores, demarcou-se da ação espontânea dos seus homens! Foi muito feio, inaceitável, esqueceu-se que a maioria das reivindicações só são aceites através da luta!

Os tempos que atravessamos, a selva que se instalou no desrespeito pelos direitos de quem trabalha, exige um sindicalismo combativo e duro, só assim faremos frente ao capitalismo selvagem, que hoje tem como rosto uma extrema direita que procura vingar-se do que foi um passado de conquistas que se traduziram no bem estar social. Sim, há e haveria muito a fazer, mas hoje temos de cerrar fileiras e não deixar que o que existe seja vilipendiado e arrasado! As leis do trabalho nunca foram oferecidas pela boa vontade de qualquer governo, foram sim, conquistas das lutas de quem trabalha! Não baixemos os braços, eles andam aí, mas nós temos a razão do nosso lado, cá estaremos para os enfrentar: sem medo!!

Deolinda Martin
Sobre o/a autor(a)

Deolinda Martin

Professora aposentada. Dirigente sindical.
Termos relacionados: