Que floresçam mil partidos de esquerda, nada tenho contra. O próprio Bloco de Esquerda nasceu para reagrupar a esquerda radical e alternativa que não se revia nem no imobilismo do PCP, nem na constante abdicação parda do PS. Cá estamos todas e todos para o combate e a disputa.
Mas sejamos responsáveis na argumentação. Como pode Ana Drago, nova dirigente do Livre, afirmar que “à esquerda do PS dizem-nos que há uma varinha mágica: reestrutura-se a dívida e também vai correr tudo bem” (Público de 20/06/2015). Peço desculpa, mas aqui nunca ninguém disse isso. A reestruturação da dívida é um instrumento, um dispositivo, para conseguirmos relançar a nossa economia e o mínimo de justiça para o país. Dito de outra forma: é a base para podermos ter esperança e imaginar um futuro diferente. Não é um fetiche, é uma necessidade. Se Ana Drago coloca a questão nestes termos, então é pura demagogia para criar um terreno de entendimento com o PS, que desiste do essencial: conseguir os meios para fazer política de outra maneira. Por isso mesmo, a dirigente responde com clarividência à jornalista: “P: Portanto nesta questão da dívida, o Livre/Tempo de Avançar está disponível para fazer cedências em nome do Estado Social e da criação de emprego? R: Exato”.
Exato: o Livre define-se. Projeta como ambição irrealista reestruturar a dívida e lança-se nos braços de Costa no objetivo vago (e inconsequente, sem a afetação imprescindível de recursos que só se obtêm com a renegociação) “de defender o estado social, sustentar a economia e criar emprego”. Então e uma palavrinha sobre a TSU dos trabalhadores e a liberalização dos despedimentos previstos no programa económico do PS? Nada, percebe-se que não quer incomodar.
Mas se não quer incomodar, para que serve?!