Podíamos começar a falar do aumento do preço da alface, mas isso de pouco serve para os liberais, que preferem deixar o mercado funcionar e não querem ouvir falar em controlo de preços!
Mas se para algumas coisas os liberais querem o mercado a funcionar livremente, para outras já exigem apoios públicos para manter os negócios do costume.
Em Ponta Delgada, a Iniciativa Liberal mostrou recentemente a sua indignação perante a hipótese de uma empresa municipal estar a concorrer contra a iniciativa privada na organização da próxima PDL WHITE OCEAN (Festa Branca).
Para a IL, o liberalismo funciona, mas só se a iniciativa privada for financiada por apoios públicos.
Foi isso que revelou a deputada municipal da IL em Ponta Delgada quando afirma que é “absolutamente contra ser o município a organizar diretamente este evento”, mas completamente a favor de que seja a empresa privada que tem realizado este evento a receber dinheiros públicos para continuar a fazer o evento.
Ora, isto é querer condicionar o mercado, escolhendo favorecer o privado, apenas porque é privado, e é recorrer ao velho preconceito de que tudo o que é público não será de qualidade… a não ser o dinheiro dos munícipes, este cai bem e será bem entregue ao privado.
Mas esta já é uma série longa de incoerências liberais, basta recordar que foi o Deputado Liberal na Assembleia Regional a propor um apoio público de 4 milhões de euros para a renovação das frotas dos operadores de tráfego local da região.
Os liberais querem tudo: mais apoios públicos às empresas, menos impostos e endividamento zero!
Em bom rigor, quem foram os açorianos que mais beneficiaram com a redução fiscal? É bom lembrar que existia uma diferenciação da taxa aplicada aos escalões de IRS até 2022: 30% para o primeiro escalão, 25% para o segundo e terceiro escalões e 20% para os restantes. Em 2022 todos os escalões passaram a beneficiar de 30% de redução nas taxas de IRS.
Ora, isto veio beneficiar claramente a classe média alta, uma oferta da direita a quem mais recebe. Na região mais desigual do país e a segunda com maior risco de pobreza, a direita decidiu que a redistribuição da riqueza deve funcionar ao contrário.
E no rol de artigos de opinião liberais, temos também o do vice-coordenador da IL em São Miguel, que afirma que o sonho liberal é viver sem inspeção das atividades económicas, a tal que é fundamental para controlar os preços, garantir que haja higiene e segurança onde comemos, entre muitas outras coisas. Querem construir o que denominam de “sociedade menos assética”. Para além disso, estes liberais querem que se volte ao trabalho informal, sem salário mínimo, sem recibos, sem proteção social, sem limite de horas. Ao mesmo tempo, conseguem dizer que o trabalho informal chateia muitos privados porque lhes prejudica o negócio... Quem é que percebe estes liberais?
Este delírio liberal terá consequências graves e como já vimos à frente dos nossos olhos, quando foi posto em prática, no Reino Unido, este modelo só durou 45 dias. É caso para dizer quantas alfaces serão precisas para acordarmos para a realidade?
