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O falhanço de Copenhaga e a irresponsabilidade climática

Após meses e meses de reuniões internacionais; de inúmeros relatórios científicos a alertar para as consequências do aquecimento global e a apontar as medidas necessárias; dos olhos do mundo expectantes sobre Copenhaga; a ausência de um acordo vinculativo com metas internacionais e compromissos reais para os vários países, o seu adiamento por mais um ano, não é mais do que um rotundo falhanço.

O falhanço de Copenhaga tem rostos.

A irresponsabilidade dos países ricos industrializados, os culpados históricos pelas alterações climáticas, é um desses rostos. A posição do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, de não querer compromissos, foi profundamente lamentável. Mas também a União Europeia, afirmando liderança em todas as negociações, falhou. E falhou em não assumir uma meta interna de 30% de redução das emissões, quando o mínimo fundamental era os 40%, conforme pede a comunidade científica internacional.

Outro dos rostos foi a China. Na sua ânsia de seguir os passos do capitalismo não aceita assumir modelos de desenvolvimento sustentáveis que respeitem as pessoas e o ambiente.

Nas ruas as vozes de milhares e milhares de pessoas fizeram-se ouvir com o slogan "mudem o sistema, não o clima". Porque é precisamente este sistema capitalista que muda o clima e não quer tomar decisões para proteger as gerações vindouras. Se há uma vitória em Copenhaga é destas inúmeras vozes que se fizeram ouvir e não vão desistir da luta toda pela justiça climática.

Mas falemos agora da irresponsabilidade de Portugal.

Beneficiado pelo Protocolo de Quioto em aumentar 27% as suas emissões, esse valor vai ser ultrapassado em pelo menos 5% com um custo de vários milhões de euros do Orçamento de Estado. É que a irresponsabilidade paga-se caro, tanto para os contribuintes como para os consumidores que verão a electricidade aumentar muito acima da inflação.

E muita propaganda tem sido feita ao investimento nas renováveis.

Mas o que é preciso dizer é que para os produtores individuais e as micro e pequenas empresas continuam a ser colocados entraves no acesso à microgeração, uma das formas mais interessantes de energia renovável.

Que o parque das ondas na Póvoa de Varzim, um exemplo mundial nas palavras do anterior ministro da Economia, está parado há mais de um ano.

Que o desperdício energético continua acima dos 60% sem que o Plano para a Eficiência Energética seja uma resposta séria, já que prevê apenas reduzir em 1% não o consumo de energia mas o seu crescimento, situando-se a sua taxa de execução em apenas 6,6% em 2008.  

Que este Governo vai avançar até 2019 com a construção de 6 novos grupos de centrais termoeléctricas a carvão e 9 de ciclo combinado, como denunciam os planos da REN.

Que o sector com maior crescimento no consumo de energia e nas emissões, o dos transportes, tem sido totalmente ignorado quando se continua a desinvestir da ferrovia e dos transportes públicos, empurrando as pessoas para opções de transporte individual mais dispendiosas para os orçamentos familiares e degradantes do ambiente das cidades.

Além da propaganda é preciso ver as medidas concretas, e o que elas nos mostram é a política da continuidade sobre políticas climáticas irresponsáveis do anterior Governo. 

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, engenheira agrónoma.
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