Está aqui

O Elefante na Europa

Na Europa liberal, tudo se espalha, tudo se contagia: o risco da dívida, a recessão… e a estupidez.

O crescimento na Zona Euro desacelerou de 0,8 para 0,2% no segundo trimestre (2,5 para 1,7%, em valores homólogos). A estagnação atingiu as principais economias da moeda única (Alemanha, França, Itália e Espanha) e ainda o Reino Unido. Os pacotes de austeridade estão a deprimir o consumo e travar o crescimento um pouco por toda a Europa e, na Alemanha e França, a estagnação foi provocada ou agravada por uma degradação das exportações (surpresa!). Uma economista do AMRO Bank somou dois e dois e comentou: “Se a economia global está a arrefecer, também vamos assistir a isso na Alemanha”.

A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, pede que os travões orçamentais não bloqueiem o crescimento. Claro que não explicou como é que isso se faz. A nova moda nas instituições internacionais é mostrar preocupações com o crescimento, mesmo que a concretização dessa preocupação seja uma mera profissão de fé ou a quadratura do círculo austeridade-“confiança”-crescimento.

A verdade é que perante sucessivos incumprimentos de metas orçamentais e o aumento da pressão sobre a dívida pública de economias cada vez mais importantes da Zona Euro, a resposta vai continuando a ser a implementação de novos programas de austeridade, que vão alargando o clima recessivo ao conjunto da zona Euro.

É neste contexto que propostas mais consequentes, como a dos eurobonds, começam a surgir dos quadrantes mais insuspeitos, desde George Soros até ao Governo Italiano. Mas os Governos alemão e francês continuam a inviabilizar esse tipo de soluções. Acenam agora com uma taxa sobre transacções financeiras (que vem sendo anunciada praticamente desde a crise financeira), mas rejeitam “para já”(?) a ideia da dívida pública europeia, insistindo no endurecimento da disciplina orçamental como solução para os actuais problemas da Europa.

Na ausência de respostas a problemas estruturais, multiplicam-se expedientes de duvidosa sustentabilidade. O BCE promoveu uma mega-operação de compra de 22 mil milhões de euros de dívida pública (sobretudo espanhola e italiana) que aliviou temporariamente a pressão dos mercados sobre esses dois países. Mas será que alguma criatura naquela instituição acredita que essa é uma solução estável?

Acresce que esta mesma instituição, o BCE, continua a planear novos aumentos nas taxas de juro. Enquanto Ben Bernanke, da Federal Reserve norte-americana, garante taxas próximas do zero até pelo menos 2013, para tentar reanimar a economia, o BCE mostra-se mais preocupado em conter uma inflação conjuntural, decorrente dos aumentos dos preços da energia, do que em controlar o desemprego massivo que afecta hoje cada vez mais e maiores economias na zona Euro.

Perante o agravamento e alastramento dos problemas estruturais na Zona Euro, as elites que a dirigem, oscilam entre os apelos, as medidas paliativas ou, mais frequentemente, a cegueira pura e dura. Na Europa liberal, tudo se espalha, tudo se contagia: o risco da dívida, a recessão… e a estupidez.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputado e economista.
(...)