No cálido mês de agosto onde a população do Algarve mais que triplica, incluindo residentes, turistas e emigrantes, atingindo em permanência cerca de dois milhões de pessoas, tiveram lugar alguns fenómenos quase difíceis de acreditar.
Um desses fenómenos foi, finalmente, a publicação da lei que irá acabar, de vez, com as erradas e injustas portagens na Via do Infante, embora só a partir de 1 de janeiro de 2025. Portagens impostas por PSD e PS e que terminarão ao fim de 14 anos de luta dos algarvios que não baixaram os braços e sempre acreditaram na vitória.
Um outro fenómeno, mas agora muito triste e vergonhoso, ocorrido há uns dias e, curiosamente, também na Via do Infante, foi um parto de uma bebé que aconteceu nesta via. Com efeito, a Estela nasceu numa ambulância dos Bombeiros de Portimão, em plena autoestrada, quando a mãe era transportada para o Hospital de Faro. Num mês, em que o Algarve contempla centenas de milhares de pessoas, esta região tem a funcionar apenas uma urgência de obstetrícia. Nessa mesma semana 18 urgências, de Trás-os-Montes ao Algarve, de Ginecologia/Obstetrícia e Pediatria encerraram, ou apenas aceitaram utentes encaminhados pelo CODU/INEM e/ou pelo SNS 24. Uma situação que, infelizmente, continua a persistir com mais ou menos urgências destas especialidades encerradas. Uma autêntica calamidade que atinge o SNS.
Todos sabemos o que o governo PS fez ao SNS a nível nacional e, particularmente, no Algarve. Falta de investimento público, carência gritante de médicos, enfermeiros e de outros técnicos de saúde, carreiras cada vez mais degradadas e condições de trabalho muito difíceis, urgências com longas horas de espera, meses e até anos de espera por consultas e cirurgias, degradação e encerramento de serviços, a maternidade do Hospital de Portimão esteve grande parte do tempo encerrada.
A “cereja em cima do bolo” do governo PS para o SNS no Algarve foi quando decretou um novo figurino de gestão e administração, que entrou em funcionamento no dia 1 de janeiro de 2024, com a criação de uma nova Unidade Local de Saúde/USL abrangendo toda a região, onde se incluem os Hospitais de Faro, Portimão e Lagos, o Centro de Reabilitação de S. Brás de Alportel (CHUA), todos os 16 Centros de Saúde e mais 152 polos da região. Uma verdadeira aberração e um autêntico desastre, pois não se vai conseguir gerir esta mega concentração de serviços com as graves consequências daí resultantes, perdendo-se uma gestão de proximidade, além de outros problemas. Uma situação que o novo governo PSD/CDS não teve a coragem de reverter e as consequências estão bem à vista de todos.
Com efeito, Luís Montenegro e a sua ministra da Saúde com as suas medidas avulsas e a defesa das unidades privadas de saúde, só pioraram o SNS onde o descalabro é por demais evidente e o Algarve é bem demonstrativo dessa negra realidade, onde já se nasce na autoestrada. É inadmissível que o bloco de partos do Hospital de Portimão tenha encerrado durante todo o mês de agosto, tornando as suas trabalhadoras “transferidoras” de mulheres grávidas para o Hospital de Faro, conforme denunciou o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Foram as enfermeiras especialistas em saúde materno-obstétrica que tiveram de assegurar o parto na ambulância que ia a caminho de Faro.
O governo e o ministério da Saúde acabaram por deixar o Barlavento algarvio sem qualquer resposta em Pediatria de modo consistente. A contração de médicos pediatras em prestação de serviços durante determinados dias, o que permitia o funcionamento do bloco de partos em Portimão, acabou por colidir, inexplicavelmente, com a mobilização de obstetras para o Hospital de Faro, não se percebendo a opção gestionária por parte dos seus responsáveis. O Departamento da Mulher e da Criança do Hospital de Portimão tornaram-se em serviços “fantasma”, não garantindo qualquer tipo de segurança para os algarvios e para os turistas que nos visitam.
Por sua vez, o encerramento destes serviços e a transferência de mulheres e crianças para o Hospital de Faro acabou por sobrecarregar aqueles serviços sem o reforço das equipas de enfermagem, excetuando duas enfermeiras especialistas que se deslocam diariamente de Portimão para Faro.
Importa, assim, que o governo valorize as carreiras profissionais para que os algarvios e outros cidadãos não fiquem privados do acesso a esses cuidados de saúde. O caminho mais que justo têm sido as lutas, traduzidas em vários dias de greve, encetadas pelas enfermeiras e enfermeiros da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve, exigindo melhores condições de trabalho, de horários e remuneratórias.
O PS e o PSD, no que respeita ao Serviço Nacional de Saúde, têm funcionado, ao longo do tempo, como dois irmãos gémeos, comportando-se como duas faces da mesma moeda: degradação paulatina dos serviços públicos do SNS, uma das mais importantes conquistas da Revolução de Abril. Com o CDS, IL e Chega no poder seria ainda pior – privatização e extinção imediata do SNS.
Para impedir a progressiva degradação do SNS, salvando-o da sua extinção a prazo e ao invés, valorizando-o e reforçando-o, só com uma viragem na situação política nacional através de um verdadeiro governo de esquerda ao serviço dos cidadãos deste país.
