O Bloco é uma solução para todas e todos, sem deixar ninguém de fora

porDiana Santos

27 de janeiro 2022 - 16:33
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Nesta campanha eleitoral tentei concentrar-me nas soluções. É esse o compromisso que quero deixar a todos os setubalenses que acreditem na diferença das propostas do Bloco de Esquerda: que prometemos concentrar-nos nas soluções, sem deixar de estar no terreno para identificar os problemas.

É com uma profunda sensação de realização que faço o balanço desta campanha. Sinto-me realmente feliz por ter levado a palavra de um partido, que não baseia as suas escolhas em votos e populismos mas sim em pessoas.

Eu sou a prova disso, mulher com deficiência, sem militância política, mas desde sempre politizada. Eu, uma mulher com deficiência, vinda do ativismo e das lutas de rua, estou aqui neste momento como segunda candidata a este distrito e isso demonstra a relevância que o nosso Bloco de Esquerda dá aos direitos de todas as pessoas. Nomeadamente, ao respeito que tem pela importância da representatividade das pessoas com deficiência em todos os contextos da esfera social. Pelo respeito de dar voz a quem nunca é ouvido.

Estamos na reta final desta campanha onde demos tudo de nós e, como comecei por dizer-vos sinto-me realmente realizada sem, no entanto, poder deixar de sentir, na primeira pessoa, alguns constrangimentos que convosco quero partilhar, não num sentido queixoso, mas num sentido de reflexão conjunta sobre o tanto que há para fazer.

As dificuldades em palmilhar o distrito de Setúbal foram bastantes e o tanto que eu gostava de ter palmilhado mais... Os transportes públicos no distrito, não são acessíveis para todos, não o são para mim, uma mulher com deficiência no ano de 2021, não são para todos os que aqui vivem, estudam, trabalham. Merecemos e temos propostas para fazer melhor!

Tentei visitar as forças de segurança e não consegui entrar em edifícios, como no caso da GNR da moita, porque degraus me impediram de entrar.

Fiquei frustrada, confesso, mais que uma vez. Fico também frustrada quando sei que aquele degrau era apenas o reflexo das condições degradantes, em que muitos destes profissionais, cuja função é garantir a nossa segurança, têm de trabalhar.

Tentei concentrar-me nas soluções e foi neste foco que me concentrei durante toda a campanha.

É esse o compromisso que quero deixar a todos os setubalenses que acreditem na diferença das propostas do Bloco de Esquerda: que prometemos concentrar-nos nas soluções, sem deixar de estar no terreno para identificar os problemas.

O Bloco de Esquerda quer encontrar soluções para saúde acessível para todos. Que todos os cidadãos possam ter cuidados de saúde de qualidade, incluindo no que diz respeito à saúde mental, um tema que ficou ainda mais descoberto e vulnerável neste contexto de pandemia e que tanto tem sobrecarregado as famílias e as crianças.

Que qualquer cidadão possa ter acesso a um psicólogo, sem pensar que é um luxo, mas uma necessidade e que possa tratar das suas emoções, com a mesma propriedade com que trata da sua saúde física.

O Bloco de Esquerda quer que exista uma rede de cuidados continuados, transversal a todas as idades, que todas as pessoas, em qualquer etapa da do ciclo de vida onde se encontrem, sejam tratadas com dignidade na sua condição humana e não tenham de sair das suas casas, das suas comunidades e redes de suporte e laços de afeto.

O Bloco de Esquerda quer encontrar soluções de vida independente e a vida independente não se esgota na assistência pessoal que queremos, obviamente, que não dependa de projetos-piloto que incidam em amostras consideradas "privilegiadas", mas que conste no orçamento do estado e passe a ser uma resposta social universal para todas e todos a que dela têm direito. O Bloco quer mais: quer que os produtos de apoio sejam uma realidade, que o seu acesso seja desburocratizado e agilizado; que, mais uma vez, as acessibilidades sejam um direito para todos (acessibilidades físicas, de comunicação, etc), quer que a escola inclusiva seja uma escola de e para todas e todos, respeitando as especificidades de cada estudante. Que o trabalho seja um direito de todas e todos e as políticas de incentivo à contratação de pessoas provenientes de grupos minoritários ou de grupos vulneráveis seja efetiva e não deixe, realmente, ninguém para trás.

O Bloco de Esquerda quer que as pessoas com deficiência possam viver com dignidade e, por isso, lutará por prestações que, com toda a justiça, se equiparam ao ordenado mínimo, sem que tenham em conta os rendimentos da família.

O Bloco de Esquerda quer que esteja garantida a defesa dos interesses dos cuidadores informais e da atividade democrática para a definição e aplicação de políticas públicas, nomeadamente o estatuto de cuidador informal. Que ele deixe definitivamente de ser uma estratégia de marketing do PS e valorize realmente quem sempre substituiu o estado a cuidar. Que todos esses anos de trabalho voluntário, com o esforço dos afetos (que nem deveriam ser todos como esforço) sejam contabilizados como anos para a reforma é uma das nossas lutas. Não desistiremos dela!

E por falar em reforma, que nenhuma pessoa com deficiência fique de fora de uma lei - ludibriada à pressa pelo PS para destruir as propostas de outros partidos de esquerda - que continua a discriminar quem, com todas as dificuldades acrescidas, trabalhou e contribuiu para este país toda uma vida e agora se vê obrigado à indignidade de se reformar por invalidez. A comunidade das pessoas com deficiência colocou este tema no parlamento e o Bloco de Esquerda abraçou-o como seu. Não o largaremos!

O Bloco de Esquerda quer advogar politicas feministas atuantes, inclusivas, interseccionais, democráticas e com foco nos direitos humanos, que são também direitos das mulheres. Quer juntar-se na luta contra a violência de género e a violência doméstica e fazer ecoar a ideia de que a liberdade e a diversidade são enriquecedoras, seja pelas capacidades funcionais, pela orientação sexual, pela maternidade ou ausência dela, pela condição social de trabalhadora precária ou de funcionária pública ou empregada, sem deixar nenhuma mulher de fora.

O Bloco de Esquerda quer muitas coisas? Talvez, mas são todas possíveis, ou melhor, serão com o voto de confiança de cada um e uma de vós. No que consta no programa do partido mas, especialmente, no que consta no trabalho já demonstrado, em que é a representatividade que traz para o primeiro plano os problemas interseccionais das várias minorias, entre muitas de quais também me encaixo.

Podemos dizer que o Bloco de Esquerda é uma solução para as minorias? Não! O que podemos dizer é que o Bloco de Esquerda não é uma solução para as maiorias: é uma solução para todas e todos, sem deixar ninguém de fora, e essa é e será sempre a única solução.

Como ouvi um dia destes o nosso querido candidato Leandro dizer e me apropriei de tal forma que não me canso de dizer "há partidos que querem impor o parlamento nas ruas. O Bloco quer trazer as ruas para o parlamento". Que assim seja, que assim façamos sempre!

Intervenção no comício do Bloco de Esquerda em Almada, no dia 26 de janeiro de 2022

Diana Santos
Sobre o/a autor(a)

Diana Santos

Psicóloga clínica. Ativista pelos direitos humanos e civis das pessoas com deficiência
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