Está aqui
O ódio
Algumas almas sensíveis ficam chocadas quando acuso a actual maioria da autarquia portuense de levar a cabo políticas de ódio. Referi-o a propósito da campanha negra contra os arrumadores (cruzada que envolvia sábios psiquiatras da academia, polícia, pancada e detenções ilegais) ou aquando da reiterada e sistemática intenção de expulsar os pobres da cidade (bem patente em todo o processo do Aleixo).
Reitero-o agora a propósito da recusa desta vil maioria em atribuir o nome de uma rua portuense ao falecido escritor José Saramago. Existirá demonstração mais cabal de sectarismo e falta de generosidade política do que este acto da mais elementar cegueira? O que o justifica, a não ser um espírito de cruzada contra a opinião divergente e, mais ainda, contra tudo o que emane das artes e cultura? José Saramago é um dos mais notáveis escritores de sempre e pautou a sua vida pela coerência e pela Defesa da liberdade e dos Direitos Humanos. Era comunista? Era ateu? E então? São tais motivos suficientes para que os Torquemadas da maioria exerçam censura, post mortem, ao nome e à figura de Saramago? Imagine, Dr. António Costa, o seu amigo Rui Rio à frente dos destinos do país…
O próprio voto de pesar contou com as abstenções do PSD e o voto contra de um cruzado puritano fundamentalista do CDS. Esta gente vive ainda com as vestes da inquisição e decerto conviveria bem com o fascismo. Nas suas mentes ainda dançam podres fantasmas. Decerto Saramago ficaria irritado com tanta miséria intelectual. Mas como era de seu timbre, tudo serviria de fermento para um novo romance.
Estes insectos mesquinhos serão pisados pelo tempo e Saramago conquistou a imortalidade. Mas cabe-nos a nós, gente que se honra de lutar pela liberdade, pela arte e pela cultura, de encontrar caminhos de convergência que devolvam a dignidade cívica a uma cidade que escreve nos seus muros a insubmissão.
Exorto o meu partido, o Bloco de Esquerda, bem como o PCP e o PS a encontrarem caminhos de decência e alternativa (estou tão à vontade em dizê-lo quanto em nada me pesa a consciência: dei por três vezes o melhor de mim a combater a matilha. Não mais serei candidato à autarquia).
Eles não têm um pingo de vergonha ou de sensibilidade. Nem sequer são capazes de pensar pela cidade, presos que estão aos seus fossilizados preconceitos. Esta é a questão: o nome de Saramago casa bem com o de Porto; e o desta cidade enaltece o escritor.
Que uma nova maioria tenha como tarefa primeira escrever SARAMAGO numa das ruas desta urbe de liberdade.
Comentários
Na Assembleia de Freguesia de
Na Assembleia de Freguesia de Paranhos, a maioria PSD-PP chegou ao ponto de chumbar um voto de pesar pela morte do Saramago. Nem morto deixam o homem em paz. Tens toda a razão, João, quando dizes que esta direita é um nojo.
Esta direita??? 1 Nojo?! As
Esta direita???
1 Nojo?!
As Direitas NÃO são "Culturais", normalmente. Dizia o outro: "Quando me
falam de cultura, puxo logo da pistola!".
O n/ 'Botas' dizia que "estudava com dúvida e realizava com fé", era de Direita, mas, claro: tipo "português-suave" -- ao n/ estilo amigos, portanto, ao estilo do portuguesinho que se compraz em anunciar: "Se fosse eu que mandasse..." e vai a correr a votar no primeiro aldrabão bem-falante que lhe promete o "bacalhau-a-pataco"!..
Mas o n/ Botas, além de ser o que foi (e o que não foi...), era instruído e nada estúpido, faça-se-lhe essa justiça. Não se importou de deixar imprimir nas badanas dos exemplares das obras do outro único escritor português comparavel (superior mesmo, direi eu) ao Saramago -- Aquilino Ribeiro: «Dir-lhe-à mal de mim. Não importa, é um grande escritor!»
Essas nossas Direitas, João e Rioardo, não são apenas um 'nojo': são
estúpidas e ignorantes. São a «nossa» Direita , a que temos direito...
Caro João Teixeira
Caro João Teixeira Lopes.
Concordo em absoluto com a indignação. Não faz sentido esta censura à memória de um dos mais notáveis escritores de Língua Portuguesa, o único Nobel da Literatura português. Mas, há aqui um problema que me preocupa. O que se passa com a nossa cidade? Esta gente de que fala foi (re)eleita pela maioria dos Portuenses e alguns deles "arriscam-se" a fazer parte do governo num futuro que se antevê cada vez mais próximo.
Não discuto opções políticas ou partidárias. Sinceramente, acho que o problema já é bem mais grave do que isso. O que está em causa é uma aparente atitude conformista que parece ganhar contornos genéticos, não só no Porto mas em Portugal inteiro. E isso é mau, muito mau.
Um abraço,
PB
O nome Saramago numa rua do
O nome Saramago numa rua do Porto enaltece uma cidade, já de si em decadência, com projectos a decorrer lentamente e onde, como Guia-Intérprete, tenho que dar largas à minha imaginação para lhe dar um cunho de charme.Menciono Saramago em muitas visitas, pois representou-nos com um trabalho em prol da arte, da cultura e da liberdade.Era comunista? Não quero saber, sou Guia-intérprete de um país e cabe-me apenas mostrá-lo no que tem de melhor e de pior.Era ateu?E depois?Em resumo, estou indignada.Em Portugal louva-se Egas Moniz pelo seu Nobel,a Lobotomia (prática bárbara de limpeza cerebral) e sobre Saramago, uma cidade recusa-se a dar um nome a uma rua de uma figura apreciada por todos os que nos visitam, menos por nós. Mas como “santos da casa não fazem milagres”, continuamos a viver no seio de seres mesquinhos, de mente pequena e preconceituosa. Digo isto com tristeza e pesar, pois tenho orgulho no meu país e em dá-lo a conhecer com entusiasmo.
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