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Nova corrida ao ouro
A extração de lítio em Portugal é uma matéria controversa. Há aqueles que são adeptos entusiastas, vendo neste recurso todas as vantagens de um grande negócio e a salvação do interior, tipo ouro negro que vai impedir a desertificação e até o futuro promissor para as regiões do interior do país. Depois, há outros que nem querem ouvir falar das minas a céu aberto e de todos os impactos ambientais associados à sua extração. É claro que não devemos excluir de todo a sua exploração, desde que a mesma seja suportada em estudos de impacto ambientais sérios e rigorosos. Até porque a utilização do lítio nas baterias e acumuladores tem impactos positivos na diminuição das emissões de CO2 ao potenciar o uso e autonomia dos veículos elétricos. E fazer uso dos recursos naturais dum país para criar riqueza é algo a considerar seriamente. Mas especialistas alertam para que este ouro negro pode ser mais negro do que ouro: Portugal tem um número significativo de ocorrências de lítio, mas como são compostos naturais, e não carbonatos de lítio, necessitam de ser transformados para virem a ser utilizados pela indústria, tendo um custo de transformação que encarece o metal face às minas de numerosos países da América do Sul.
Argemela (Covilhã-Fundão) ou Covas do Barroso (Montalegre) e as dezenas de outros locais em prospeção e estudo no interior (e com forte incidência em áreas protegidas) têm algo em comum: A política das grandes empresas interessadas no nosso lítio é a disseminação de explorações em vez da concentração em determinadas áreas de modo a fugirem aos constrangimentos legais da Avaliação de Impacte Ambiental e poderem negociar em separado com centenas de pequenos proprietários desprevenidos e pouco instruídos.
Assim, em Março de 2018, a Assembleia da República aprovou, por unanimidade, uma recomendação ao Governo para que suspendesse o processo para a celebração de contrato de exploração mineira na Serra de Argemela antes de avaliados todos os impactos. Reagindo a esta desagradável imposição o truque da empresa não se fez esperar: fez um novo pedido de exploração mineira referente a uma área mais reduzida (7,8 hectares) que curiosamente não implica a realização prévia de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
Ora todas estas pequenas explorações deviam estar englobadas numa Avaliação Ambiental Estratégica a nível nacional e não estarem sujeitas a estudos de impacte ambiental individuais, até pelos efeitos de concorrência e impactes cumulativos.
Mas não, convém às grandes empresas uma avaliação individual, menos onerosa em termos de estudos e bem mais permissiva.
Não nos podemos esquecer do tremendo passivo ambiental que causaram todas as explorações mineiras em Trás-os-Montes e Beiras. O lucro foi rápido mas temporário enquanto que, os desastres ambientais, ligados ao lucro rápido, foram permanentes, afetaram as regiões mais desfavorecidas e contribuíram para a sua desertificação, durando mesmo até aos dias de hoje.
A devastação causada pelas pedreiras, minas de volfrâmio ferro , cobre e arsénio percorre todo o Nordeste Transmontano e Beiras e continua a poluir, pela sua toxicidade, as águas superficiais e aquíferos e a constituírem feridas na paisagem por sarar.
Os industriais compraram rápido e barato, extraíram o mais possível enquanto o preço nos mercados internacionais era convidativo e abandonaram escombreiras e inertes por todo o lado. E deixaram muitos mineiros sem assistência com a terrível silicose, a doença pulmonar que mata lenta e dolorosamente…
O preço do lítio no mercado internacional é tudo menos transparente e está sujeito a tremendas flutuações. Vamos colocar os recursos naturais do interior dependente desta economia de casino??
Artigo publicado em Interior do Avesso
Comentários
Hoje já não é tão assim. Sim,
Hoje já não é tão assim. Sim, qualquer exploração tem o seu impacto, seja uma mina ou uma suinicultura ou até mesmo um parque eólico ou geotermal. Por outro lado, não faz sentido não explorar um importante recurso económico. Uma mina gera sempre emprego e receitas.
Já agora, os preços de TODOS os metais preciosos oscilam constantemente, assim como o petróleo. Falar disto como se fosse um exclusivo do lítio...
Enquanto continuarmos a trazer para mesa o Portugal dos anos 50 e 60 do século passado, nunca mais avançamos....
Entendo que o Senhor
Entendo que o Senhor Professor devia estar mais bem documentado particularmente no que concerne à legislação ambiental e mineira, particularmente sobre a mais recente lei de 2015 de modo a poder escrever conteúdos sobre esta matéria o mais completos e rigorosos possíveis. Verifique, como universitário, o conteúdo da entrevista do professor decano de Geologia António Manuel Galopim de Carvalho que foi publicada no jornal i em particular a alusão que é exposta sobre o lítio.
De qualquer modo Senhor Professor Rui Cortes bem haja por escrever sobre esta matéria particularmente neste blog.
Tentando contribuir para a
Tentando contribuir para a discussão/reflexão que o Professor Aníbal Cortes trouxe podem consultar no you tube uma entrevista/opinião de um especialista da Universidade do Porto Dr. Romeu Vieira feita já há praticamente um ano após a saída da RCM 11/2018 sobre a estratégia do lítio. Podem aceder se localizarem no motor de busca Qi Reportagem - Lítio - Perder uma corrida sozinho
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