Duas semanas depois da vitória da extrema-direita americana na pessoa de Donald Trump, já foi possível ver como a caixa de pandora se abriu e dela saiu todo o circo de avantesmas que pairam sobre os americanos e sobre todos os povos do mundo.
À medida que Trump vai tornando públicas as suas escolhas para a nova administração, observamos somar-se, uma após a outra, as figuras mais sinistras para a formação de uma administração que promete apenas uma coisa: enfraquecer ainda mais a já débil democracia americana, agravar a exploração das pessoas, dos recursos, limitar direitos liberdades e garantias, e agravar as relações de força internacionais.
Começa-se por Elon Musk que tem vindo a utilizar a sua rede social X para divulgar a ideologia de extrema-direita e foi ao ponto de, durante a campanha eleitoral literalmente comprar votos dos eleitores.
Segue-se a escolha de Matt Gaetz para procurador-geral, o qual passa desta forma de alvo de uma investigação pela comissão de ética do Senado, a protetor de Trump diante da investigação de que este é alvo.
Lee Zeldin foi escolhido por Trump para ser o diretor da Agência de Proteção Ambiental, e já anunciou a intenção de reduzir a dimensão dos parques nacionais.
Chris Wright, chamado para Secretário de Estado da Energia, promete aumentar a extração e comercialização dos combustíveis fósseis.
Elise Stefanik, apontada como embaixadora nas Nações Unidas, tem provado ser uma defensora dos setores sionistas mais radicais.
Por último, neste reino do absurdo, Robert Kennedy, um negacionista das campanhas de vacinação, é chamado para secretário da saúde.
O circo de horrores americanos está montado e a ele somam-se todos aqueles que, um pouco por todo o mundo acrescentam ameaças a estas ameaças.
Da Argentina, Javier Milei que foi ao G20 com a mira de evitar a taxação dos mais ricos, e fazer recuar a agenda sobre o ambiente e sobre a igualdade de género, já teve oportunidade de se regozijar pela eleição do seu companheiro de armas, Donald Trump.
Netanyahu, por seu lado, exibe o contentamento com a vitória de Trump e o alinhamento da nova administração americana com as ambições imperialistas da extrema-direita israelita. O genocídio do povo Palestiniano não parece conhecer travão.
Na Europa, que não merece ser modelo de democracia para ninguém depois de ter convivido tranquilamente com o facto de Macron ter roubado o resultado eleitoral dos franceses, destacam-se Viktor Orban, o campeão dos limites à liberdade de imprensa na Hungria, e Meloni, a amiga Italiana de Elon Musk, que promete ser a âncora da organização e crescimento da extrema direita na Europa.
O combate antifascista precisa de ser assumido de uma forma consistente e estrutural, e precisa de conduzir à convergência da esquerda toda e em todo o lado.
Todas as causas precisam de merecer convergências da esquerda: a defesa dos direitos dos imigrantes, o combate antirracista, a proteção do ambiente e o combate pela mitigação das alterações do clima, a defesa do direito dos povos à autodeterminação, à paz e à liberdade, a defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, as liberdades de opinião e expressão, o progresso no campo dos direitos do trabalho.
Na semana passada foi divulgado o barómetro das diferenças remuneratórias entre homens e mulheres, que deixa a nu as disparidades salariais. Em 2022, as mulheres ganhavam em média menos 13,2% do que os homens, disparidade essa que se agrava quando o estudo inclui para análise o conjunto do ganho, isto é prémios, subsídios e trabalho extraordinário. Aí a diferença sobe para os 15,3%. É como se, num ano inteiro, as mulheres trabalhassem 48 dias sem auferir qualquer remuneração.
Esta desigualdade estrutural em função do género é intolerável e é uma das muitas manifestações das profundas desigualdades e discriminações no mundo do trabalho. Combatê-las faz parte do caminho para travar o crescimento da direita.
