Ao contrário do que alguns nos querem fazer acreditar, Portugal não é um país de esquerda que tem sido governado com políticas de esquerda nos últimos 20 anos. Pelo contrário, o que temos testemunhado é a implementação crescente de políticas liberais e neoliberais, que têm empurrado a sociedade portuguesa para a situação em que nos encontramos hoje. É hora de abrir os olhos para a realidade e compreender que a economia de mercado é uma farsa, pois o grande capital e as empresas deste país dependem principalmente dos orçamentos de estado para prosperar.
Recentemente, as reportagens escandalosas exibidas pela TVI não me deixaram estupefata, mas sim confirmaram uma triste realidade: os liberais e neoliberais aproveitam-se do Estado para desfrutarem de uma vida cheia de benefícios. Aqueles que construíram uma retórica contra os beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) e que se opõem às políticas sociais de esquerda são os mesmos que sempre viveram à custa de subsídios, subvenções, contratos e adjudicações diretas do estado ou com o estado. Eles beneficiam-se a si mesmos e aos seus círculos de familiares, compadres e amigos, como se estivessem em um filme estilo "Godfather".
É fundamental que olhemos além da retórica enganosa e analisemos a realidade dos últimos anos em Portugal. As políticas adotadas não refletem uma agenda de esquerda, mas sim uma adesão crescente aos princípios neoliberais, que priorizam o livre mercado e a busca incessante do lucro em detrimento do bem-estar social. A austeridade, as privatizações e as reformas estruturais implementadas são exemplos claros disso.
Portugal não está em crise por causa da guerra ou do covid, ou até da inflação. Portugal está em crise desde que me lembro de ser gente. A crise, no entanto, é seletiva, porque não chegou ao bolso do grande capital: aos bancos, aos donos de supermercados, ao mercado imobiliário, etc,etc,etc.
Enquanto a narrativa do neoliberalismo e do liberalismo tenta convencer-nos de que estas políticas são para o bem comum, a verdade é que elas perpetuam desigualdades e beneficiam apenas uma elite privilegiada. A concentração de riqueza nas mãos de poucos, a falta de investimento nos serviços públicos essenciais e a precarização do trabalho são consequências diretas dessas políticas. Não encomendem mais estudos sobre a pobreza, não são necessários, basta redistribuirmos a riqueza para erradicar a pobreza. Um CEO, em Portugal, ganhar 300 vezes mais do que o operador de caixa, já têm aí a resposta para o nosso problema.
É urgente questionar esta narrativa, fazer uma contracultura, e exigir uma mudança real em direção a políticas mais inclusivas e igualitárias. Devemos procurar uma sociedade em que o Estado seja um instrumento de justiça social, garantindo oportunidades iguais para todos os cidadãos, em vez de servir como um veículo de benefícios para uma minoria privilegiada.
É chegada a hora de repensarmos os nossos valores e nos unirmos para construir um país, onde o bem-estar coletivo seja prioridade. Devemos rejeitar a ideia de que o liberalismo e o neoliberalismo são soluções para os nossos problemas, pois eles apenas perpetuam as desigualdades existentes e afastam-nos de uma sociedade mais justa e solidária. É hora de olharmos além das aparências e trabalharmos juntos para criar um Portugal verdadeiramente democrático, inclusivo e próspero para todos os cidadãos.
