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Narcocracia
Em plena visita do presidente mexicano Peña Neto a Londres, para assinar um memorando de entendimento com o governo britânico que irá permitir ao estado mexicano acesso a uma linha de crédito no valor de mil milhões de dólares, Nick Clegg líder dos Liberais Democratas e Richard Branson fundador do grupo Virgin, assinam um artigo de opinião publicado no The Guardian onde denunciam o fracasso da estratégia da guerra contra o narco, realçando que desde 2006, só no México, mais de cem mil pessoas já foram vítimas mortais desta guerra.
Pode parecer à primeira vista inoportuno o momento em que o artigo é publicado, tendo em conta o processo de negociação bilateral e os feitos alcançados nos últimos dias pelo governo federal mexicano relativamente ao narcotráfico. Falo da prisão de “El Tuta”, Servando Goméz Martines, no passado mês e mais recentemente de Treviño Morales “El Z-42”.
“El Tuta” conhecido líder do grupo criminoso Caballeros Templarios dissidente do cartel de Michoacán, mais conhecidos por La Familia Michoacana, lidera desde 2011 uma das principais organizações criminosas mexicanas dedicada à extorsão, que se cobre com o manto da moral protecionista, advogando que a organização se dedica à proteção dos habitantes do Estado soberano e laico de Michaocán.
Um dos episódios históricos dessa proteção cívica aconteceu em 2013, onde pelo menos 10 (é difícil encontrar fontes de informação com coerência sobre o número) produtores de limão que regressavam de uma reunião com o então Secretário do Governo, Jesús Reyna García, foram assassinados nas imediações da cidade de Apatzingán pelas balas dos Templários. Ironicamente, Apatzingán é a cidade onde as forças insurgentes de Miguel Hildago proclamaram a primeira Constituição da história do México em 1814.
Não tão ironicamente, em 2014 Jesús Reyna García é preso sob acusações de delinquência organizada, fomento ao narcotráfico, bem como de envolvimento pessoal com o cartel de Servando. Em vários vídeos alegadamente divulgados pelo líder templário, ambos são vistos a conviver. Nesses vídeos, não só Reyna García é protagonista, mas também Rodrigo Vallejo, filho do governado Fausto Vallejo, Eliseo Caballero da Televisa de Michoacán e José Luiz Pérez, dono e diretor da agência de notícias Esquema. O caso leva à prisão de uns outros tantos e tantas dirigentes políticos, presidentes de municípios e diretores de segurança pública.
O artigo de Clegg e Branson é neste sentido mais do que oportuno, pois denuncia uma vez mais os três poderes instalados da Narcocracia mexicana, o político, o económico e o crime organizado. E apesar de dar como exemplo de sucesso na luta contra o narcotráfico o caso português, Clegg e Branson esquecem-se de analisar os contornos da economia política mexicana regente. É que a aliança entre o poder político e o crime organizado privilegia os interesses privados de um punho de empresários capitalistas que encontrou nesta relação uma forma de acumulação ilícita de riqueza.
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