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A metafísica dos mercados

Não fale, não sussurre, não respire: os mercados são ubíquos, instantâneos e apresentam metamorfoses mil.

Eis os mercados: bichos com alma, mitos que tudo expliquem sem que algo se perceba, êxtases e intensidades. Os mercados afinal têm pressa, irritam-se, sofrem de stress, e quando se acalmam é sempre por pouco tempo. Estão atentos, multiplicam as suas orelhas, ouvem Durão Barroso e Angela Merkel mas parecem não escutar Sócrates e Passos Coelho. Oscilam, gravitam, cogitam. Os mercados são ora seres reflexivos, ora bestas irracionais, desenvolvem muitas expectativas e por vezes deprimem. Mas soltam-se em cavalgadas heróicas que galgam fronteiras e não conhecem limite.

Fantasmagóricos, não se conhece a sua carne, pele ou osso. Face não têm, mas estão por todo o lado: na rua, na praça, no trabalho, na cama. Entre as palavras, os mercados. Nos apertos de mão, os mercados. Não fale, não sussurre, não respire: os mercados são ubíquos, instantâneos e apresentam metamorfoses mil.

Por isso a tarefa desta esquerda é dar-lhes um nome, esculpir-lhes um rosto, chamá-los à terra, vestir-lhes fato e gravata e apresentar-lhes a conta que terão obrigatoriamente que pagar sem usar o cartão de crédito. Acabou o fiado para os mercados.

Assim conhecidos, assim nomeados, a luta pode começar.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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