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Merkel não vota na Grécia, nem deve ter voto sobre a Grécia!
Vivemos um momento único na Europa.
Após anos de crise económica, onde ficou evidente a ruína de um sistema que muitos diziam infalível,
Depois de aplicar uma austeridade como não havia memória, que provocou a profunda crise social que hoje se vive, vivemos também um momento extraordinário.
Extraordinário, porque, a mudança é possível.
Neste quadro, de um lado, temos Angela Merkel, Comissão Europeia, Banco Central Europeu, FMI e até o Governo português, que entram numa espiral de pressão e chantagem sobre o povo grego porque, tudo indica, a mudança pode ser uma realidade nas próximas eleições que se realizarão a 25 de janeiro.
Ainda ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, se juntou ao coro de pressões contra o povo grego.
Do outro lado, está um povo que foi submetido a um brutal programa de empobrecimento, um povo e um país que vive uma enorme crise humanitária. E sublinho, crise humanitária.
É inaceitável que os dirigentes europeus queiram interferir nas eleições gregas. As instituições europeias nunca quiseram ouvir os povos, mas sentem-se no direito de interferir na sua tomada de decisão através de eleições livres. Eleições livres não são um slogan para quando convém, eleições livres é o povo a escolher o seu próprio caminho.
A senhora Merkel não vota na Grécia, nem deve ter voto sobre a Grécia!
As pressões e as chantagens surgem das mais diversas formas, mais diretas, mais encapotadas, mas todas agitando o fantasma da bancarrota e da expulsão do euro.
A crise da moeda única não é culpa dos gregos. É resultado de opções políticas europeias falhadas, que ilibaram os mercados e colocaram os povos a pagar pelos tóxicos da especulação, e ainda da falta de solidariedade entre Estados. Não se confundam as responsabilidades.
A troika e o Governo alemão querem passar uma esponja sobre as suas responsabilidades, querem que esqueçamos que a austeridade que impõem é resultado da opção de deixar intocado o sistema financeiro. Obrigam os povos a pagar a fatura de um buraco criado pela banca, pela especulação e pela corrupção financeira.
Do que é que estavam à espera? Que o povo grego se calasse e aceitasse passivamente o colapso do seu país? Que agradecesse ao Governo de Samaras pelos programas de austeridade e pela obediência à troika?
Tudo indica que assim não será.
É exatamente a consciência de que o povo grego quer uma mudança e está disposto a agarrar as soluções com as suas próprias mãos que faz com que Bruxelas e Berlim tremam e não hesitem em fazer uma campanha do medo, tentando salvar a sua face.
Acreditamos que não serão vencedores. O medo não se imporá à democracia. Os mercados não esmagarão a liberdade. Angela Merkel e os seus aliados não se substituirão às cidadãs e aos cidadãos gregos.
A mudança na Grécia é fator de esperança para a Europa, para os países do sul e em especial para Portugal.
O programa do Syriza é um programa que propõe uma negociação para a reestruturação da dívida. É um programa que chama o sistema financeiro a assumir as suas responsabilidades e quer libertar recursos para a criação de emprego e para combater a fome do seu povo. É alternativa! É como alternativa à austeridade que se apresenta ao povo da Grécia.
O povo grego decidirá, quer a Alemanha queira, quer não!
Declaração política na AR em 7 de Janeiro de 2014
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