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Manifestações em Washington D.C. fazem tremer as grandes petrolíferas

A Casa Branca foi sacudida na terça-feira 23 de Agosto, não só por conta do terremoto de magnitude 5,8 na escala Richter, mas também pelos crescentes protestos em frente à casa presidencial.

Mais de duas mil pessoas dizem que se arriscarão a ser presas nas próximas duas semanas. Os manifestantes opõem-se ao projeto do oleoduto Keystone XL, desenhado para transportar crude das areias betuminosas (de onde se explora o petróleo) de Alberta, Canadá, para refinarias da Costa do Golfo do México, nos Estados Unidos.

Na arquitetura, “Keystone”, que significa “pedra angular”, é a pedra que fica em cima de um arco, mantendo-o em pé. Sem ela, a estrutura cairia. Ao expor o risco de serem presos, como já aconteceu com mais de 200 pessoas no momento em que escrevo esta coluna, os praticantes da orgulhosa tradição de desobediência civil norte-americana esperam provocar o colapso não só do projecto de oleoduto, como também ameaçar a dependência de combustíveis fósseis que estão a acelerar a mudança climática.

Nill McKibben foi um dos presos. McKibben é o ambientalista e criador do grupo 350.org, que se refere ao limite de segurança da quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, no caso 350 ppm (partes por milhão). Actualmente, o planeta possui 390 ppm. No apelo ao protesto, McKibben, juntamente com personalidades como a jornalista Naomi Klein, o actor Danny Glover e o cientista da NASA, James Hanse, afirma-se que o oleoduto de Keystone “equivale a acender o pavio da maior bomba de carbono do planeta. Assim, precisamos que o Presidente Barack Obama e o resto do governo centrem muito mais atenção na mudança climática”.

O movimento de oposição a Keystone XL abarca de activistas e cientistas até povos indígenas das planícies e florestas boreais que correm perigo no Canadá, onde se encontram as areias betuminosas, passando por produtores rurais e agropecuários da região ecologicamente vulnerável de Sand Hills em Nebraska, estudantes e médicos.

Quando questionado por que os protestos diante da Casa Branca acontecem enquanto o Presidente está de férias com sua família em Martha’s Vineyar, McKibben respondeu: “Também estaremos aqui quando Obama regressar. Permaneceremos duas semanas, todos os dias. Trata-se do primeiro acto de desobediência civil do movimento ambientalista dessa magnitude em anos”.

A apenas alguns quilómetros a leste de Martha’s Vineyard e há exactos 170 anos, em Nantucket, Frederick Douglass, o escravo fugido, abolicionista, jornalista e editor, fez um dos seus discursos mais importantes diante da Sociedade de Massachussetts Contra a Escravidão. Douglass é famoso por ter pronunciado uma das verdades fundamentais sobre a organização de base: “O poder não outorga nada se você não o pressiona. Jamais o fez e jamais o fará”.

Exigir mudanças é uma coisa e consegui-as em Washington D.C. é outra, em particular se considerarmos a hostilidade da Câmara de Representantes – controlada pelos republicanos – diante de qualquer legislação contra a mudança climática. É por isso que os protestos contra o oleoduto Keystone XL estão a acontecer em frente à Casa Branca.

Obama tem o poder de deter a construção do oleoduto. A empresa canadiana que está por trás do projecto, TransCanada, pediu uma permissão ao Departamento de Estado dos Estados Unidos para construir o oleoduto. Se o Departamento de Estado negar a permissão, o oleoduto Keystone estará morto. A grande devastação ambiental provocada pela extracção de petróleo das areias betuminosas continuaria, mas sem fácil acesso às refinarias e ao mercado norte-americano, assim o processo inevitavelmente demoraria.

Os executivos da TransCanada estão confiantes de que os Estados Unidos lhes outorgarão a permissão até o fim do ano. Os políticos republicanos e a indústria petrolífera divulgam o projecto dizendo que gerará postos de trabalhos bem remunerados na construção, e que inclusive tem apoio de alguns sindicatos.

Em resposta a isso, dois grandes sindicatos, o Sindicato Unido de Trânsito e o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte, que representam mais de 300 mil trabalhadores, pediram ao Departamento de Estado que negasse a licença à empresa canadiana. Expressaram numa nota oficial conjunta: “Necessitamos de postos de trabalho, mas não baseados em aumentar a nossa dependência do petróleo e das areias betuminosas. (...) É possível gerar muitos empregos tomando por base o desenvolvimento da conservação energética, na modernização da rede de electricidade, na manutenção e expansão do transporte público; empregos que poderiam ajudar a diminuir a contaminação do ar, as emissões de gases do efeito estufa, além de melhorar a eficiência energética”.

Duas mulheres canadianas, a actriz indígena Tantoo Cardinal, que protagonizou o filme “Dança com Lobos” e Margot Kidder, que fez o papel de Lois Lane em “Superman”, foram presas juntamente com mais de 50 pessoas pouco antes do terremoto que sacudiu a costa leste. De Washington, McKibben falou: “Será preciso mais de um terremoto ou furacão para nos amedrontar. Ficaremos aqui até o dia 3 de Setembro”. E continuou “Temos a esperança de gerar um tremor de magnitude 8 na escala Richter no sistema político no dia em que Obama diga ‘não’ aos grandes projectos petrolíferos e nos lembre a todos porque nos alegrou tanto com a sua eleição. O oleoduto das areias betuminosas é a prova a qual deverá se submeter”, concluiu.

Artigo publicado em "Democracy Now" em 25 deAgosto de 2011. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha para Estratégia & Análise.

Sobre o/a autor(a)

Co-fundadora da rádio Democracy Now, jornalista norte-americana e escritora.
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