Caros amigos de São Roque, no início de Dezembro tomei a decisão de aceitar o convite que me foi feito pelo Bloco de Esquerda Açores para ser a candidata cabeça de lista pela ilha do Pico. Os meus princípios e valores humanistas encontram eco nas ideias e nas propostas do Bloco, o querer o bem comum, o desejo de que todos possamos ter uma vida melhor e sobretudo compreender de que os maiores devem proteger os mais pequenos, e não se servirem deles. Recordo-me bem dos primeiros dias que cheguei a São Roque, e recordo-me ainda melhor da primeira vez que fui ao Centro de Saúde de São Roque. Recordo-me de sair de lá a questionar-me quanto mais tempo poderia viver num lugar com um sistema de saúde tão frágil e débil. Sou saudável, sempre o fui, mas mesmo assim questionei-me se algo de urgente me acontecesse, a mim ou à minha filha. Passados três anos, ainda cá estou, saudável e forte. Mas o sistema de saúde do Pico continua frágil e débil. O passar do tempo apenas acentua a deterioração das infraestruturas, dos equipamentos e a fixação de profissionais de saúde é uma miragem. A primeira visita oficial que fiz como candidata às eleições legislativas regionais foi precisamente ao Centro de Saúde onde sou utente. Numa reunião com a direção da USIP foram-me relatados grandes feitos dos últimos anos. É curioso observar como quem está nos lugares cimeiros da pirâmide tem uma visão tão distante, e tendenciosa, do que quem está na base dela - já dizia a minha avó “pobre de quem precisa”. Falar em Saúde no Pico é falar de duas infraestruturas carenciadas e falar numa infraestrutura que não tinha capacidade para ser uma escola e que é um centro de saúde, temporário, há anos. Ler e ouvir as promessas do PS e do PSD, nas últimas legislativas de 2016 e 2020, é ter a certeza de que faltou vontade política para investir na saúde do Pico. A gritante falta de investimento prejudica insistentemente crianças, grávidas, idosos e doentes oncológicos, que continuam a atravessar o canal, faça chuva ou faça sol, contra ventos e marés, para consultas de acompanhamento, quando as há. Um absurdo, uma agressividade. Em todos estes anos não se conseguiu uma maior e melhor articulação com o Hospital da Horta para a deslocação de mais equipas médicas especializadas, uma medida de otimização de recursos, poupança financeira e que traria segurança e estabilidade à população da ilha do Pico. Ainda em relação às grávidas do Pico, esqueçamos o projeto do PS que nunca deu à luz, “Nascer no Pico”, porque ter uma maternidade no Pico parece uma realidade longínqua. Mas ter consultas de obstetrícia, de acompanhamento da gravidez parece exequível, até porque existe um ecógrafo – que ainda não compreendi onde está, mas percebi que está ao serviço do sector privado, os açorianos compraram e agora para o usarem têm de pagar. A falta de investimento, como sempre, só beneficia o sector privado. É urgente investir a sério na Saúde do Pico – garantir a modernização de equipamentos e infraestruturas, reforçar a articulação com o Hospital da Horta para deslocação de equipas médicas especialistas e implementar medidas de fixação de profissionais de saúde.
