Depois de um período de greve de 4 dias, entre 3 e 7 de outubro, e após nova reunião com a intransigente administração da Somincor, os trabalhadores preparam-se para, também com intransigência, dar seguimento à resolução deliberada em plenário geral e já anunciaram para dia 6 de novembro o início do segundo período de greve que desta vez terá 5 dias.
Cumpridas as formalidades destas coisas, segue-se uma interminável vigília ao calendário. Contam-se as semanas, os dias as horas os minutos, os segundos, sempre na expetativa de um avanço, de um sinal que ponha fim ao conflito anunciado. Ou melhor, que ponha fim ao embate, à medição de forças constitucionalmente regulamentada como greve.
Sim, porque na verdade o conflito, tantas e tantas vezes calado pelo medo, o conflito obscurecido pelas mais sinistras e ciciosas práticas do grande capital, o conflito que outras tantas mais vezes é acobertado por aqueles que juraram honrosamente arbitrar e pugnar pelo equilíbrio laboral, social, económico e democrático, para esse conflito a luta é contínua!
A luta dos trabalhadores da Somincor em greve tem, entre outros, como objetivo central a humanização dos horários de trabalho, para os dois grandes grupos de trabalhadores: os mineiros e os operadores de lavarias e adstritos.
Os trabalhadores mineiros pretendem essa humanização com o fim do regime horário que atualmente praticam. É de salientar que, à administração também lhe interessa uma mudança de horário e que a mesma estudou e apresentou um regime de “laboração condensada”, embrulhado num pacote com vários extras curiosos, entre eles a substituição do Contrato Coletivo de Trabalho por um Acordo de Empresa, a perda de dias de férias, a venda compulsiva de folgas acumuladas, e em última análise, a perda de direitos duramente conseguidos com outras lutas.
A humanização pretendida pelos trabalhadores de lavarias e adstritos vai no sentido, de em reconhecimento das desgastantes condições físicas, psíquicas e ambientais dos seus postos de trabalho, a contagem do seu tempo de serviço para efeitos de reforma seja equiparado à dos mineiros que beneficiam do regime de desgaste rápido, para antecipação da idade de reforma.
Naturalmente outras matérias estão incluídas no pacote reivindicativo, como a progressão nas carreiras, a revogação das políticas de prémios alteradas unilateralmente pela administração e o fim da pressão e repressão sobre os trabalhadores, particularmente aqueles que de alguma forma estão em situação laboral mais frágil.
Lucros atrás de lucros não é o suficiente…
Uma breve pesquisa nos relatórios de contas da Lundin Mining – dona da Somincor, concessionária da mina Neves-Corvo, mostra que o primeiro argumento: “Isto está mau…” depois de lucros em cifras de milhões não é válido, e o histórico de produção refuta também o argumento de “temos que nos adaptar à escassez de mineral”. E até mesmo no argumento de que “é necessário ajustar os horários de trabalho, porque…” recorde-se que o atual regime horário de trabalho, foi “impingido” para resolver exatamente as mesmas razões que agora a administração evoca para querer mudar horários.
Numa empresa desta dimensão é caso para perguntar: São os quadros de gestão desta casa profissionais competentes, ou meros curiosos em gestão e que têm a oportunidade e pretensão de experimentar teorias e muitas tolices com os trabalhadores?
Uma administração que propõe à negociação uma mudança com tal impacto nas vidas dos trabalhadores mas que no processo negocial não se desvia uma linha do que propõe, que menospreza uma paragem de cerca de 90% das operações de produção contra uma adesão de 17% dos trabalhadores à greve, que nega perentoriamente aos representantes dos trabalhadores o reconhecimento das práticas abusivas e discriminatórias descritas nas fundamentações da greve, que não mostra sequer preocupação pela eventualidade de nova paragem pela greve, não tem um projeto de produção, tem um plano!
E este plano até é simples: arrasar!
Há que arrasar com os direitos que sobreviveram à crise austeritária!
Há que arrasar com a força dos trabalhadores, unidos no seu sindicato!
Há que arrasar com o CCTV da mineira – esse espinho encravado, que se escapou à voragem das caducidades de Vieira da Silva.
Há que arrasar com tudo o que os impede de “governar à vontade”.
“… vê lá, companheiro. Vê lá, como venho eu”
Todas as greves são para ganhar!
Nem sempre se ganha da forma ou no tempo que se pretende, mas há sempre, no mínimo, o ganho do respeito por si mesmo.
E todas elas podem ser o toque necessário para acordar e dar alento a outros trabalhadores ou mesmo outras minas.
As minas subterrâneas ativas em Portugal têm métodos de exploração mineral muito distintos entre si, mas há um que lhes é comum: a exploração dos trabalhadores.
Porque os trabalhos levam os homens e as mulheres para debaixo de terra, o setor mineiro é terreno propício para as maiores arbitrariedades laborais, muitas vezes em notório conluio com as autoridades fiscalizadoras responsáveis, o que torna difícil mostrar e fazer prova das muitas injustiças. Quando os trabalhadores não estão unidos de forma organizada, estas tendem a perdurar e a agravar.
A greve de 3 a 7 de outubro, na Somincor pode bem ter sido a vitamina que deu força aos mineiros do setor contra o abuso corrosivo dos patrões. Dias 6 a 11 de novembro os trabalhadores da Somincor vão à segunda dose!
Votos de sucesso!
Almodôvar, 22/10/2017