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Governo de Inteligência Artificial

Este Governo não quer saber das pessoas que são atingidas pelas suas medidas porque a sua função é associar a informação que lhe é transmitida tendo em conta as regras da troika; não é preocupar-se com o efeito que elas têm na vida nas pessoas.

Há quatro anos, se a memória não me falha, tive o prazer de “apanhar” durante quatro semanas um dos professores que considero ter-me despertado mais interesse sobre um dado assunto. A cadeira era Inteligência Artificial e até hoje considero-o como um dos melhores professores que tive o prazer de me cruzar. Aprendi pouco, para dizer a verdade. Aprendi aquilo que quatro semanas permitem, sobre um assunto que é tão fascinante quanto denso e incógnito.

Esta introdução só faz sentido porque das poucas coisas que me lembro, mas não esquecerei, é a descrição inicial que esse professor fez sobre o que seria Inteligência Artificial. Será discutível, certamente, tendo em conta que essa descrição foi feita numa aula prática de Engenharia Informática e não num auditório ou sala de um curso de Filosofia, por exemplo. A memória permite-me resumir da seguinte maneira: o cérebro funciona por associação de factos. Acumulamos informação e relacionamos informação; criamos regras para descorrer esse processo.

Para uma qualquer pessoa, no decorrer da sua vida, as experiências que têm são diferentes. Portanto será relativamente consensual dizer que pensamos de maneira diferente, associamos a informação que recebemos dos nossos sentidos, das experiências de outras pessoas, de um qualquer filme ou música que ouvimos, eventualmente de maneira parecida, mas diferente não obstante. Relativamente a Inteligência Artificial, isto levanta a questão sobre como incorporar estas experiências computacionalmente, como descrever e incorporar sentimentos.

Aquilo que aprendi e ainda hoje discuto sobre este assunto tornou-se útil para aprender algo sobre este Governo PSD/CDS, e esta é a analogia: este Governo é um Governo de Inteligência Artificial.

Durante mais de um ano temos visto o processo de implantação de um programa repleto de medidas que evidenciam uma coisa acima de tudo: nenhuma preocupação sobre os seus efeitos na vida das pessoas. A preocupação, a lágrima no canto do olho, de qualquer pessoa afeta ao Governo a dizer publicamente que todo este esforço é em prol das pessoas, de quem estuda, de quem quer trabalhar, de quem trabalha, de quem já não tem trabalho ou de quem já trabalhou, perde qualquer validade no momento em que isso não se reflete na realidade. Portanto, essa preocupação foi e é falsa.

Vermos Aguiar-Branco, Ministro da Defesa, afirmar que o Governo está empenhado em salvar o Estado, nomeadamente o Estado Social, quando este Governo ativamente destrói esse mesmo; Pedro Mota Soares, Ministro da Segurança Social, preocupado com os números da pobreza quando as suas medidas aumentarão a sua “preocupação”; ou mesmo o honesto Álvaro Santos Pereira, dizer que o Ambiente não pode atrapalhar a indústria, diz-nos que, além da falta de coerência, este Governo não tem um pingo de sentimentos. É autista no que toca aos sentidos.

Este Governo não quer saber das pessoas que são atingidas pelas suas medidas porque a sua função é associar a informação que lhe é transmitida tendo em conta as regras da troika; não é preocupar-se com o efeito que elas têm na vida nas pessoas. Em caso de disputa, convido à comparação das declarações públicas sobre dado assunto e a sua implementação e resultados. Portanto, já que estamos numa de computadores, sabendo o que já sabemos hoje sobre o que esperar deste nada humano e muito artificial Governo, reiniciar o “sistema” já não serve. Resta às pessoas que se “sentem” e substituam este Windows por Linux. Ou melhor, que se levantem e substituam este Governo artificial por um Governo que se importe com as pessoas. E isso, só as pessoas podem fazer.

Sobre o/a autor(a)

Membro da Comissão Permanente do Bloco de Esquerda. Doutorando em Ciência de Computadores
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