André Freire afirma que o Bloco de Esquerda se encontra em pleno delírio revolucionário por não comparecer perante o chamamento da Troika. Como se existisse legitimidade por parte de estruturas não eleitas ou tão-só utilidade pragmática (alguma vez FMI, BCE e UE mudariam uma vírgula que fosse por pressão do Bloco ou do PCP?). O Bloco delira, pois, por se recusar a participar numa farsa que nunca foi nem será uma negociação. O Bloco delira por não se domesticar (há uma linha limite para os «compromissos»).
Ana Sá Lopes diz que o Bloco está cansado. Cansado porque não participa em pactos de governação com orientações liberais? Cansado porque não faz o jeitinho ao sacrossanto consenso assente na fatalidade, ela própria a negação da política? Cansado porque se recusa a liderar movimentos sociais que devem ter a sua voz e ritmo próprios, sem lhes impor, como sempre aconteceu com as tradições estalinistas, canções, programas e palavras de ordem? Cansado porque apresenta propostas que pressupõem um outro governo que não o do “arco governativo à portuguesa”? O Bloco lançou o tema da precariedade na discussão sobre a sociedade portuguesa e o seu manifesto eleitoral, para além do combate de todos os dias, centra-se nas gerações sacrificadas e nas soluções para os desemprecários.
O Bloco está cansado, sim, e com ele certamente muitos milhares de portugueses, pela persistência do pensamento débil; pela facilidade e preguiça com que alguns homens e mulheres de esquerda desistiram de criar alternativas e de não encontrarem solução melhor do que a do lamento ou da inevitabilidade de um acordo PS/PSD para facilitar os despedimentos, cortar salários e pensões, privatizar loucamente e transferir, como nunca antes, os rendimentos do trabalho para o capital financeiro.
Não se trata de caminharmos orgulhosamente sós. Trata-se, permitam-me por uma vez a arrogância, de termos o direito de escolher parceiros de luta comprometidos com a coragem de ousar lutar por um outro mundo.
