O PCP reuniu o seu congresso e decidiu, uma vez mais, virar as suas energias sectárias para o Bloco de Esquerda. Escolheu a pior altura, uma vez que, se há algo que o povo de esquerda deseja neste momento de violenta investida ultraliberal é, precisamente, a convergência possível das forças à esquerda e a rápida mas consistente construção de uma alternativa anti-troika. O PCP escolheu, uma vez mais, falar para dentro em vez de lançar pontes para fora. Aliás, quando tem de escolher entre a ponte e a porta, o PCP escolhe a última e fecha-a com estrondo.
Afirmações como “o Bloco de Esquerda é social-democratizante e populista” ou “o PS e o Bloco é que têm de mudar” revelam a cristalização de quem pretende reforçar a cidadela sem ousar trilhar caminhos novos.
Recordo que tem sido o Bloco a fazer as propostas de convergência: pediu duas reuniões ao mais alto nível (que se realizaram); sugeriu coligações autárquicas em que toda a esquerda se unisse; propôs uma moção de censura conjunta e inclui sempre o PCP como força indispensável a um Governo de esquerda.
Mas o Bloco sabe bem quem é o seu adversário e dele não se desvia um só segundo: a troika, o memorando e a refundação do Estado, respaldada pelos interesses do capital financeiro.
Propor um referendo sobre a saída do euro sem dizer uma só vez quais as consequências possíveis para os mais desfavorecidos se tal opção se concretizasse (e discuti-la com seriedade e comparação de cenários não pode ser um interdito) revela uma irresponsabilidade a que não estamos habituados no PCP. E só pode ter um nome: populismo de vistas curtas.