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Ficarei deprimido?

Os investigadores da Universidade de Tóquio anunciaram recentemente que a possibilidade de um terramoto de magnitude superior a 7 pontos, na escala Richter, ocorrer em Tóquio, nos próximos 4 anos, é de 70%.

Isso quer dizer que pode acontecer amanhã, na semana que vem, no próximo mês, no próximo ano...

Sem dúvida, trata-se de uma péssima notícia. Os japoneses sabem disto? Sim, sabem perfeitamente. Esse comentário dos investigadores foi divulgado amplamente nos meios de comunicação japoneses. Depois disso vi, inclusive, uma grande empresa jornalística publicar um manual que explica onde se refugiar, em Tóquio, caso ocorra tal calamidade. A JR (Japan Railways), que opera as principais linhas de comboio de Tóquio, divulgou que irá gastar muitos milhões de ienes para reforçar as linhas dessa que é a principal cidade japonesa e também o coração do país. Várias das grandes empresas japonesas divulgaram que estão a preparar planos para a eventualidade de as suas sedes serem atingidas pelo tremor, seja ele de qual proporção for. Numa situação de emergência, preparam-se para, imediatamente, transferir as operações de seus quartéis generais para outras cidades do país.

A polícia japonesa tem um plano de fechar, rapidamente, as 50 principais vias de acesso à cidade. Dizem que é para que alimentos e ajuda possam chegar ao local, mas é mais provável que seja para impedir que a população possa fugir de um possível inferno e, com isso, aniquile em apenas algumas horas aquilo que é a terceira economia mundial, depois dos EUA e da China.

Temos portanto vários cenários possíveis. No caso de haver um forte terramoto, podem ocorrer milhares de mortes. A destruição de milhares de construções. A destruição de ruas e estradas. A destruição completa ou parcial das linhas de comboio e metro. A destruição completa ou parcial da rede elétrica. Isso, por si só, teria consequências catastróficas. Se, como resultado do terramoto, acrescentarmos um tsunami, seja ele pequeno ou grande, teremos essa tragédia multiplicada. Nesse caso poderíamos ver o metro de Tóquio inundado. Os principais edifícios inutilizados, já que parte da sua estrutura de manutenção (eletricidade, aquecimento, etc) encontra-se nas caves. É preciso lembrar também que a sede do governo se localiza em Tóquio.

Além desse terramoto, outros investigadores alertam para a possibilidade de que num futuro próximo possam ocorrer os terramotos das regiões de Tokai, Nankai e Tonankai, abrangendo as áreas do centro em direção ao sul, onde estão situadas duas das principais cidades nipónicas, Nagoya e Osaka. Os investigadores dizem também que esses três terramotos podem ocorrer simultaneamente, provocando tsunamis de até dez metros.

O que temos a ver isso? Possivelmente, para alguns poucos, nada. Mas, para a grande maioria da população do planeta, provavelmente, muito.

Em primeiro lugar, mesmo sem uma tragédia dessa natureza, a economia japonesa vem naufragando. Mas, caso esse desastre ocorra (refiro-me ao terramoto de Tóquio) existe a possibilidade de o Japão passar da terceira economia mundial para o principal problema económico mundial, arrastando consigo as economias do planeta. Poderia ocorrer um pandemónio nas bolsas de valores do mundo inteiro. A moeda japonesa poderia ser pulverizada instantaneamente. Poderíamos passar de uma crise global para uma profunda depressão global. E isso pode ocorrer a qualquer momento, já que os dados da atividade sísmica na ilha de Honshu, onde se localiza Tóquio, têm-se mostrado particularmente preocupantes desde a tragédia do ano passado.

Sinceramente, ponderei muito sobre escrever a minha opinião. Mas, depois de escrever sistematicamente sobre o Japão, por mais de dois anos, vejo-me na obrigação de dizê-la. Nesse caso, mais do que ninguém, gostaria de estar equivocado.

O que fazer? Não vejo outro caminho além de continuar a lutar contra as políticas de austeridade e de opressão. Mas acredito também que, caso não tenhamos a valentia necessária, poderemos cair numa grave depressão.

Ficarei deprimido?

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