Nestes últimos dias temos assistido a uma frenética aparição de figuras da direita portuguesa na comunicação social, imediatamente secundados pelos dirigentes das corporações patronais, sem faltar os recados europeus e o inefável Durão Barroso.
Todos eles afinados pelo mesmo diapasão: “o futuro governo deve ser formado pela coligação de direita”.
Esta coligação perdeu 700.000 votos, perdeu 25 deputados e perdeu a maioria absoluta.
Existe uma maioria de 3 milhões de votantes que se pronunciaram contra a austeridade, no parlamento (ainda sem contar com os votos dos emigrantes) existe uma maioria de 121 deputados e deputadas que resultam destes 3 milhões de votos.
Neste quadro é tão lógico e constitucional que esta maioria de 121 representantes eleitos seja o suporte de um governo.
A Europa está cheia de exemplos deste tipo, mas, como é costume, para a direita portuguesa, os exemplos da Europa política , económica e social, só são bons quando servem os seus interesses.
O eventual surgimento de um governo suportado pelos parlamentares do PS, Bloco, PCP e PEV não está ferido de qualquer pecado original, nem constitui qualquer aberração política ou legal/constitucional.
Sendo claro o ordenamento jurídico, gostava de abordar este assunto pelo lado político, particularmente no que me diz respeito: o Bloco de Esquerda.
Se é um facto que o Bloco teve uma importante vitória eleitoral, a verdade, porém, é que os eleitores e eleitoras não deram a força necessária ao Bloco para dirigir a formação de um governo e aplicar o seu programa.
Mas como sempre dissemos, não fugiríamos à responsabilidade de unir esforços mediante políticas que defendessem o emprego, os salários e as pensões, e protegessem a segurança social.
Perante a emergência social – que sempre assumimos - que afeta os portugueses e portuguesas que vivem do deu trabalho, seria irresponsável não contribuir para uma solução de combate à austeridade, caso o PS estivesse disponível para esse combate.
É nesta fase que estamos no momento em que escrevo este artigo. Não sei se as conversações terão êxito, mas sei que os portugueses e portuguesas terão no Bloco um fiel depositário do seu voto, porque o BE vai fazer tudo para combater as políticas de austeridade que semearam o sofrimento no país e na região.
Mas deste esforço, infelizmente, já se descartou o Presidente do PS/Açores e do Governo Regional, o Dr. Vasco Cordeiro. Através da comunicação social nacional e regional, soubemos que desde a primeira hora, Vasco Cordeiro se opôs a qualquer ideia de um acordo à esquerda para o combate à austeridade. Aliás, não só se opôs, como foi dos contendores mais acirrados contra esta ideia.
Como disse atrás, não sei se as conversações chegam a bom porto, mas a atitude de Vasco Cordeiro, ao rejeitar, à partida – por mero jogo eleitoral, por causa das eleições regionais, daqui a um ano – uma hipótese, por mais pequena que seja, de afastar do poder a coligação de direita e iniciar políticas de combate à austeridade, nada abona em seu favor.
Para Vasco Cordeiro, à frente dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, à frente dos interesses do país, estão os seus interesses eleitorais.