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Fadas do Lar? Não, obrigada!

São a dobrar os motivos para aderir e participar na Greve Geral. As mulheres têm um lugar nesta greve, lutando pelo seu direito ao trabalho, pelo salário justo, mas também pela afirmação do seu papel social, recusando retroceder décadas e aos tempos em que o lugar da mulher era em casa.

A Greve Geral da próxima quinta-feira, dia 24 de Novembro, é de todos e todas que sofrem com as medidas do Governo. É a hora de quem sofre na vida o empobrecimento diário e vê negadas as oportunidades no futuro. É a hora de quem não se conforma com a inevitabilidade, essa nuvem negra que persegue quem recebe o salário mínimo, a pensão miserável, o apoio social minguado, de quem foi declarado rico porque recebe acima dos 1.000 euros, daqueles e daquelas que estão desempregados ou ameaçados pelo despedimento, aqueles e aquelas a quem se exige que trabalhem mais, sem nada receber em troca.

Mas o dia 24 de Novembro tem que ter um significado especial para os milhares de mulheres que já trabalham 12 horas ou mais por dia, entre o emprego e as tarefas domésticas, que gastam mais tempo nos transportes porque têm os filhos e filhas a seu cargo, que recebem menos que os homens desempenhando as mesmas tarefas, que procuram creches para os filhos e apoio para os seus pais e não encontram, que têm que fazer artes mágicas para gerir o rendimento até ao fim do mês.

As mulheres perdem muito com as medidas de austeridade, mas quando perdem o seu posto de trabalho, quando ficam excluídas do mercado de trabalho perdem, também, parte da sua cidadania, como afirmou Maria de Lurdes Pintasilgo. Nunca como agora estas palavras tiveram tanto significado e são um verdadeiro alerta que as mulheres devem ter em conta.

As mulheres são a maioria dos pobres, a taxa de desemprego feminina é superior à masculina, as mulheres são a maioria dos trabalhadores que ganham o salário mínimo nacional e são a esmagadora maioria de quem recebe as pensões de sobrevivência (as pensões mais baixas), são a maioria dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção e têm um lugar destacado no trabalho com vínculo precário, com especial ênfase para o trabalho temporário. Estão mais expostas à pobreza e ao desemprego.

Tudo isto exerce uma pressão concreta e específica sobre as mulheres e pode significar um retrocesso nos seus direitos e na sua afirmação social.

Ficar desempregada significa também “voltar ao lar” e à centralidade do trabalho doméstico e à dedicação exclusiva ao cuidado da família. Ao trabalho invisível e não valorizado. Parte da cidadania das mulheres, conquistada com a entrada no mercado de trabalho, está em causa.

São a dobrar os motivos para aderir e participar na Greve Geral. As mulheres têm um lugar nesta greve, lutando pelo seu direito ao trabalho, pelo salário justo, mas também pela afirmação do seu papel social, recusando retroceder décadas e aos tempos em que o lugar da mulher era em casa.

Façamos do dia 24 de Novembro também uma jornada de luta pelos nossos direitos. Aderir à greve geral é ser parte na paragem do país. Na paragem total. Não se vai ao emprego, não há escola, não há compras, não há assuntos em atraso para resolver. Nesse dia há praças para encher, há indignação que é preciso fazer ouvir, há esperança na força da luta colectiva.

Estamos vivas, não queremos voltar atrás e inevitável é a nossa cidadania plena, da qual não podemos abdicar.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.
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