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Exigimos clareza e justiça

Como em todos os processos de salvação dos bancos, o processo do Banif não foge à regra das trapalhadas.

Desde logo, a promiscuidade entre o sector bancário e os principais partidos portugueses: PS, PSD e, ultimamente, CDS.

No caso concreto do Banif, numa primeira fase, assistimos à ocupação de lugares de referência de figuras gradas ao PSD/Madeira. Depois, assistimos à entrada de figuras políticas, quer do PSD, quer do PS nacional. De acordo com um levantamento jornalístico, que remonta a 1988, a lista contém largas dezenas de personalidades…

Este levantamento permite-nos ter uma ideia do intrincado cruzamento de interesses, em jogo, desde diversas empresas (representadas por estas personalidades), até ao ‘tacho’ puro e duro.

Olhando para esta realidade indesmentível, pergunto: - Não será esta a principal razão para tanta dificuldade, no apuramento da verdade, sobre os negócios escuros da banca? Não estará aqui uma das principais responsabilidades, para o quadro negro a que chegámos?

É claro que sim! E, até prova em contrário, reside, aqui, a incapacidade(?) de supervisão e intervenção do Banco de Portugal, nos desvarios de vários bancos.

A má situação do Banif foi detectada, em Dezembro de 2015, tendo exigido a entrada de capital público.

Neste momento, a boa pergunta é: que interesses permitiram que este processo andasse a marinar, durante 3 anos, para depois a Comissão Europeia obrigar à venda, por tuta e meia, ao gigante Santander, tendo o Estado português avançado (no global), com perto de 4 mil milhões de euros?!

O Santander comprou a parte viável do Banif, por 150 milhões de euros, mais a hipótese de um crédito fiscal de 289 milhões de euros. Que bela prenda!

No passado, assistimos, no nosso país, à promiscuidade entre finança e políticos. Hoje, assistimos ao mesmo espectáculo, mas ao nível europeu. De comum, o facto do dinheiro ter a mesma origem: o povo português.

Porque impediram a integração do Banif resolvido, na Caixa Geral de Depósitos, como defendeu o Bloco de Esquerda, em Dezembro de 2015? Um Banif recapitalizado ajudaria à consolidação da CGD, evitando, hoje, um enorme dispêndio para a sua urgente recapitalização.

Mas não foi isso que aconteceu. A Comissão Europeia e, até, PS, PSD e CDS, aprovaram a venda ao Santander. Aqui temos, mais uma vez, os interesses dos grandes, no comando!

É mais do que urgente pôr ordem em tudo isto! Esperemos que as conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito não defraudem as expectativas. E, já agora, esperemos, também, que o conjunto de medidas apresentadas pelo Bloco de Esquerda - desde as questões de supervisão, ao controle de capitais -, sejam aprovadas, para trazer decência à nossa vida colectiva.

Mas, se medidas como estas são urgentes, o que se passa com os chamados “Lesados do Banif” é, simplesmente, vergonhoso!

Conheço, de viva voz, alguns casos, onde poupanças de uma vida (pouco milionárias) desapareceram, num estalar de dedos, no jogo dos senhores importantes.

Estamos a falar de mealheiros para uma velhice mais sossegada, para um percalço de doença ou necessidade da família; estamos a falar (na maioria dos casos) de dinheiro honesto, amealhado com muito esforço e suor. E estamos a falar de 256 milhões de euros de poupanças, ou seja, uma ninharia, perante os volumes globais envolvidos.

Estas pessoas têm direito a não continuarem a ser enganados, têm direito a justiça!

Temos de encontrar uma solução colectiva, para os lesados do Banif! Temos de juntar a nossa voz à deles, reivindicando decência!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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