Está aqui
Ensino à distância pede sensatez
Começo por elogiar todos os professores que, de um dia para o outro, fruto da crise epidemiológica instalada, conseguiram adaptar-se a uma situação completamente nova. Foi um tremendo esforço? Foi! Mas os conselhos de turma foram realizados e as notas lançadas, apesar de, excitadas pelo estado de emergência, algumas direções assumam tiques de tiranetes.
Pois bem, ainda o governo não deu orientações concretas sobre o ensino à distância no terceiro período e já muitos professores estão a ser bombardeados pelos respetivos diretores com uma catadupa de procedimentos a adotar: utilização da plataforma Moodle e da suspeita aplicação Zoom, dos grupos WhatsApp e dos emails de turma. E como se não bastasse, cada professor tem ainda de preencher uma ficha de tarefas realizadas com cada aluno e dar conhecimento dessa ficha a cada diretor de turma … Coisa pouca, sobretudo para professores com dez ou mais turmas e acima de 300 alunos.
Já se sabe que a telescola vai avançar, como forma de agilizar e equiparar os conteúdos oferecidos. Neste contexto de grandes limitações e desigualdade de recursos tecnológicos, em vez de simplificar o processo e assegurar o essencial - as aprendizagens -, apenas se cria ansiedade e stress nas famílias (muitas pressionadas pelo teletrabalho), nos alunos e nos professores. Está por esclarecer se, no final do ano, é admissível haver chumbos de alunos que tenham tido aproveitamento no segundo período, o que tornaria toda esta tensão ainda mais injusta.
Outros problemas se poderão levantar: que controlo de dados? Que regras para a captação de imagens, divulgação em redes sociais ou fornecimento a terceiros? E os professores sem hábitos de utilização de tecnologias digitais? Muitas direções esquecem que a maior parte dos docentes das suas escolas estão numa faixa etária bastante avançada.
E os professores mais jovens, que estão com filhos menores em casa? Como conseguirão compatibilizar a assistência à família com longos horários fixos em frente ao computador? Se estas direções insistirem em tentar reproduzir online uma sala de aula, muitos serão os docentes obrigados a pedir licença para assistência à família, arruinando o modelo e comprometendo o necessário complemento às aulas pela televisão.
Pergunto-me: ainda sem qualquer diretiva clara da tutela para o terceiro período, porque se colocam tantos diretores neste papel? Porque não esperam pelas orientações escritas do governo a este respeito?
Por tudo isto, defendo o ensino à distância baseado na telescola, em articulação com a comunicação com os alunos através de um email da turma e com acompanhamento individualizado e regular por diretor/a de turma.
Esperemos que, desta vez, a tutela assuma uma orientação clara às direções de escolas e agrupamentos e que demonstre a sensatez que falta a alguns diretores, cujos sonhos digitais podem tornar-se o pesadelo de comunidades escolares fechadas em casa.
Comentários
Concordo com a exposição e
Concordo com a exposição e partilho a minha preocupação para com as crianças com necessidades educativas especiais, para quais o ensino à distância não funciona e ainda não vi nenhuma orientação nesse sentido.
Peço desculpa aos bins
Peço desculpa aos bins professores,
aos professores excelentes, que, infelizmente são uma minoria, mas ainda as aulas não começaram e já estão com críticas, já estão exaustos, etc, etc. São artigos do género por todo lado, um esgotamento! Os professores têm que precher uma ficha!!??? Os médicos têm que preencher papelada sem fim, os enfermeiros idem, até os camionistas têm de preencher documentação...Mas quem é alérgico, ao papel, às actas, aos relatórios, etc, são os Srs professores. Será que esta classe nunca vai ter noção?! Claro que este sistema vai ser melhor para os professores, só não é para os pais. Para os estudantes será bom também, perto dos pais, a aprenderem a ser mais autónomos e a não serem uns "info-auto-excluídos" das novas tecnologias como os Srs. professores. E vai ser finalmente uma experiência de melhor qualidade do que muitas aulas, e sem dúvida onde, pelo menos numa parte importante, todos terão aulas em que estão no mesmo ponto do programa, as mesmas explicações de qualidade, sem dar erros a falar, sem dar erros de escrita, como muitos e muitos professores dão, infelizmente. Agora, os professores já não terão 2 manhãs livres, uma tarde livre, um dia com 2 h de aulas , ah, nem o barulho da turma, nem de manter os alunos em ordem, e quem lhes faça metade do trabalho, mas pelos vistos já se estão a preparar para um esgotamento pandémico, será que vão fazer greves, será que vão apresentar baixas, usando o tempo dos médicos para passarem papelada?! Honestamente penso que trabalhando todos os dias da semana, com metade do tralbalho feito, se calhar passam a ter uma vida excelente, e também aprendem um bocadinho...e sobretudo não precisam de trabalhar ao fim-de-semana, porque agora não podem ir a todo o lado tratar da vida pessoal, naquelas manhãs, tardes, dias inteiros em que deviam estar a preparar as aulas. Mais uma vez, desculpem-me os professores bons, os professores excelentes, os professores com vocação, que não se deixaram contaminar por esta vitimização e choradeira colectiva desta classe, muitas vezes arrogante e, sobretudo, sem pudor...e uma afronta a muitos profissionais que têm vidas realmente exigentes, esgotantes...
É sempre lamentável ver
É sempre lamentável ver alguém fazer a figura de falar do que desconhece. A realidade dos professores é extremamente dura a todos os níveis. A amálgama de afrontas e ultrajes, vindas de todos os lados, a que os professores têm de sobreviver com dignidade e integridade, exige um esforço sobrehumano a compaginar com a noção bem clara dos objetivos a cumprir e a solidez do seu sentido do dever, sempre perseguidos pelos professores, contra o vento, e boicotados de todos os lados. O professor tem de se manter em equilíbrio no turbilhão de tensões contraditórias em que se transformou a educação depois do 25 de abril.
Se somarmos a isto, a impreparação de pais para ser pais, a impreparação dos alunos para ser alunos, a impreparação da tutela para ser tutela e a impreparação dos políticos para compreender o valor do filão que a educação é, para a riqueza nacional, e se somarmos ainda a proverbial ingratidão a que os professores desde sempre foram votados. Sim, os professores têm razão para estar tão esgotados que já nem sequer o dizem vezes suficientes.
Mas a verdadeira cegueira é a da alma. Se algo trouxe à luz do dia a Pandemia, foi que sem escolas abertas, a economia estagna e o futuro fica incerto.
Suba a um arranha-céus e observe à sua volta, tudo o que vê, é obra dos professores. Sem eles, nem sequer esse texto que escreveu para os denegrir, teria sido capaz de escrever.
Os professores falham, sim, todos os profissionais falham. Os professores são oriundos da população portuguesa, não se lhes pode cobrar que não tenham os mesmos méritos e defeitos. Com que direito exige aos professores mais do que ao comum dos mortais. Acaso assinam contrato de Super-heróis?
Infelizmente, não tem perfil para a profissão, que é muito exigente, de outro modo, a cura para o despudor das suas palavras, seria fácil.
Parabéns pelo artigo. Lúcido,
Parabéns pelo artigo. Lúcido, objetivo, conciso e bom para que seja lido por todos, principalmente pelos diferentes agentes educativos.
A colega está cheia de razão.
A colega está cheia de razão. Se deixarmos cada escola entregue a si própria teremos competições para ver quem se aguenta mais tempo em bicos de pé, enlouquecendo dessa forma professores, alunos e famílias. A estratégia que propõe é a mais sensata, a mais prática e a mais eficaz. Não podem de maneira nenhuma reproduzir-se as salas de aula presenciais em salas de aula virtuais. Os professores não estão em casa dos alunos e os encarregados de educação não podem substituir os professores.
Ninguém pode ter a veleidade de pensar que o 3º período decorrerá de forma normal. Claro que os alunos têm de continuar a ser estimulados no seu progresso, mas daí a considerar que a matéria prevista para o 3º período pode sair nas provas de exame vai uma grande distância. Muitas opções nas provas só vão atrapalhar os alunos que já vão fragilizados para as provas dadas as circunstância especiais do ano letivo. Trazer o ME à razão é sempre uma tarefa muito difícil.
Adicionar novo comentário