António Costa veio a Matosinhos afirmar que “era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos”, referindo-se ao encerramento das instalações da refinaria em Leixões e ao despedimento de trabalhadores.
O Costa, primeiro-ministro, que fez esta compungida declaração é o mesmo Costa que deixou que tudo acontecesse.
Ou será que, para estabelecer a confusão, estamos perante um Costa bom e um Costa mau?
O Costa bom diz-se preocupado com a falta de sensibilidade da empresa que anunciou o encerramento da refinaria no próximo Natal e com a falta de responsabilidade social, porque a empresa não se preocupou com a requalificação dos trabalhadores.
O Costa mau que colaborou no planeamento do encerramento da refinaria e deu os passos para contribuir para a concretização desse objetivo, andando sempre de mãos dadas com a Galp em todo o processo, e não votou (o seu grupo parlamentar) favoravelmente a proposta do Bloco de Esquerda para proibir os despedimentos.
O aproveitamento político de um assunto que é um drama social é já, só por si, lamentável, ainda mais quando se trata de uma situação para a qual ele contribuiu de forma clara e decisiva. O Estado é acionista da Galp e pode interferir diretamente nas decisões da sua administração.
É fácil perceber que se não houver por parte de quem decide uma clara preocupação com a situação dos trabalhadores afetos às indústrias que mais contribuem para as emissões de gases com efeito de estufa e que vão ter que fazer a sua reconversão, estes vão ser abandonados à sua sorte.
Por este motivo se fala da importância da transição justa e de que os direitos dos trabalhadores, nomeadamente a adaptação às novas condições, seja garantida pelo Estado.
Esta campanha autárquica não precisava deste triste momento de aproveitamento eleitoralista, na ânsia da caça ao voto.