Nas últimas legislativas o Partido Socialista preferiu utilizar a estratégia do medo, criando uma crise artificial com base numa suposta instabilidade política, para provocar eleições e conseguir alcançar a sua tão desejada maioria absoluta.
É importante relembrar a estabilidade governativa alcançada em 2015, altura em que, com os partidos à sua esquerda – Bloco de Esquerda e PCP - e através de acordos escritos, foi possível um entendimento para dar respostas aos problemas do país.
Mas em 2019, o Partido Socialista decidiu que estava na altura de se libertar, rejeitando qualquer entendimento em temas fundamentais como o trabalho e a saúde. Em 2022, devido à intransigência do PS, não foi possível um entendimento que permitisse a aprovação do Orçamento de Estado. Em nome de uma suposta estabilidade política foi feita uma campanha para uma nova maioria absoluta.
As maiorias absolutas não têm sido representativas de estabilidade, pois têm representado cortes e abusos que penalizam os portugueses. Basta recordar o buraco criado pelos bancos no valor de 23.800 milhões de euros, pago pelos contribuintes. Mas a banca aplaude as maiorias absolutas e esta não foi exceção, com o presidente do BPI e o Santander a enaltecer esta maioria e a pedir uma borla fiscal para o setor bancário, apesar de apresentar lucros recorde.
Há uns anos, António Costa afirmava que "os portugueses não gostam de maiorias absolutas. Têm más memórias de maiorias absolutas do PSD ou do PS ". Esta não será exceção.
Em apenas 9 meses, assistimos a 13 demissões e 5 remodelações no Governo da República, em processos envoltos em muita polémica e falta de transparência numa altura em que se exigia estabilidade governativa e foco na resolução dos problemas dos portugueses.
Há crises que não controlamos, como é o caso da pandemia e da guerra na Ucrânia, mas a crise a que se assiste no Governo da República é da sua inteira responsabilidade.
O tempo é bom professor e permite-nos olhar para trás e refletir sobre as verdadeiras consequências de uma maioria absoluta e dos motivos que levaram ao chumbo do primeiro orçamento de estado para 2022. O Bloco alertou para esta estratégia do Partido Socialista e para a intransigência do PS em negociar soluções estruturais para os problemas do país.
Neste retrato de maioria absoluta podemos questionar como ficam os Açores. O PS votou contra a proposta do Bloco para a criação de um plano de investimentos plurianual para a região, que serviria como instrumento de responsabilização, mas também de verificação do cumprimento das medidas propostas para a região. Assim, continuaremos a assistir aos sucessivos adiamentos de investimentos estruturantes para a região e ao não cumprimento das responsabilidades da República para com os Açores. Uma negociação deve ser firmada com um acordo. Mas esta maioria absoluta nega qualquer instrumento de responsabilização. Assim foi com os acordos escritos e assim o é com a nossa região.
A todos os que apontaram o dedo ao Bloco pela sua decisão de votar contra o orçamento de estado para 2022, talvez agora já compreendam a decisão e já concordem com este facto: a falta de compromisso não permite avanços.