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E se acabássemos com “tradições” bárbaras como as touradas?
A utilização de animais para espetáculos de entretenimento tem sido uma das questões éticas mais discutidas atualmente. O novo paradigma da ética animal entende todos os seres vivos como seres sencientes. Assim, todo o sofrimento animal para entretenimento humano é injustificável. A esquerda luta pelo fim da exploração do ser humano pelo ser humano, como acontece nas sociedades capitalistas. Hoje existe a perceção de que a exploração não se resume à dominação entre seres da mesma espécie, mas também a relações de dominação entre espécies diferentes.
A resposta passa por três medidas simples mas fundamentais: 1) o Estado não deve financiar qualquer espetáculo tauromáquico; 2) deve-se limitar a ida às touradas a criança; e 3) a RTP deve parar de emitir esses “espetáculos“ vergonhosos
A Assembleia da República aprovou uma lei que prevê que qualquer maltrato fisíco a algum animal de companhia seja punido com uma pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias. Mesmo depois de está lei ter entrado em vigor, a 1 de Outubro de 2014, ficaram ainda algumas questões ainda por responder: Porque apenas os maltratos a animais de companhia ficam sujeitos a penalização? Como compatibilizar a existência de touradas com a prova de que os touros e cavalos são seres sencientes ? É possível que o valor da tradição supere o valor da vida dos restantes seres vivos?
Se no passado, e com o desconhecimento total do conceito de bem–estar animal, estes espetáculos poderiam ser culturalmente interessantes, com os conhecimentos atuais as touradas não fazem qualquer sentido e, por isso, devem acabar.
Mas como compatibilizar o respeito pela tradição com a posição anti-tourada que aqui defendo?
É certo que a tradição é muito importante para a memória coletiva de um povo, sendo até um fator de identificação de diferentes culturas. Entendo que poderíamos adotar aqui duas posições bem diferentes.
A primeira, baseada no relativismo cultural extremista, defende que não se poderá exigir o fim das touradas por todas as tradições serem legitimas e, portanto, a tentativa de se tentar aboli-las é não se respeitar a cultura de um povo. No entanto, esta posição esquece que o respeito pela cultura de um povo não é igual ao respeito por todas as tradições de um povo. Resumindo, não existem culturas mais ou menos “melhores”, mas existem tradições que respeitam ou não os direitos humanos, animais e ambientais. As touradas não respeitam nenhum destes direitos e, por isso, devem ser abolidas. É nesta segunda posição que me encontro.
Mas como o fazer preservando o costume anti-proibicionista que a nossa esquerda se orgulha?
A resposta passa por três medidas simples mas fundamentais:
1) o Estado não deve financiar qualquer espetáculo tauromáquico; 2) deve-se limitar a ida às touradas a criança; e 3) a RTP deve parar de emitir esses “espetáculos“ vergonhosos. Mas não cabe apenas ao Estado zelar pelos direitos dos animais, mas também aos partidos e, acima de tudo, aos movimentos sociais, que têm um papel fundamental nesta luta. As pessoas de esquerda ou anti-touradas devem-se unir por esta luta.
Temos a certeza de que com esta luta a suposta tradição da tourada vai eventualmente acabar. Ao afirmar o fim das touradas temos a certeza que, mais uma vez, -estamos do lado certo da história!
Comentários
Concordo contigo.
Concordo contigo.
Não podemos vacilar na luta contra a tortura dos animais.
É legal! E se a maioria não
É legal! E se a maioria não desaprova e vivemos numa democracia então que se respeite a vontade da maioria!
O que é isso do lado certo da
O que é isso do lado certo da história? A história tem um caminho determinado e de um lado está o certo e do outro o errado? Deve ser confortável fazer política assim. Tudo muito simples. De um lado o povo bárbaro de Vila Franca ou de Barrancos, com a sua ligação à terra e às tradições (não são supostas, são mesmo tradições) que a sustentam; do outro o lado certo da história que os vai civilizar. As tradições não são boas por ser tradições. Mas quem as combate deveria estudá-las e compreende-las antes de as combater. É relativismo? Sim. Um instrumento que, com limites, tem sido útil à esquerda que não se quer dogmática,
Em que é que a tourada viola os direitos humanos e, mais extraordinário, os direitos ambientais? No segundo caso até me parece que, garantindo a existência de mais uma espécia, os protege.
Se quer alargar a punição por maus-tratos (e não maltratos) a animais que não sejam de companhia, isso quer dizer que não vou poder voltar a comer carne?
"A esquerda luta pelo fim da exploração do ser humano pelo ser humano, como acontece nas sociedades capitalistas. Hoje perceção de que a exploração não se resume à dominação entre seres da mesma espécie, mas também a relações de dominação entre espécies diferentes."
Julgava que num partido de esquerda marcado pela tradição marxista não se escreviam estas barbaridades. É a singularidade humana que explica o nosso combate contra a pena de morte, pela liberdade de todos os individuos e pela igualdade entre nós. Defender os direitos dos animais não obriga a repetir os disparates do PAN e companhia. Acha que os homens podem ser donos de outros homens, como são de cães? E podem ter homens a trabalhar para si apenas em troca de alimento, como têm animais? Que podem criar um ser humano para depois o matar? Ou será que isto é apenas o primeiro passo para uma linertação dos animais semelhante à que conquistámos para os humanos e vamos por fim, nesta nova perceção, acabar com os animais de companhia, de trabalho ou para alimentação? É isso que defende o Bloco de Esquerda? Se sim, escrevam isso no programa. Se não, não se façam comoarações absurdas entre a exploração capitalista, que queremos abolir, com a exploração animal, seja lá o que isso for.
Bem sei que este assunto é popular. Mas não valem todos os disparates para ganhar votos.
O ser legal não legitima
O ser legal não legitima moralmente. Neste caso, é legal mas não é obrigatório cumprir. Estávamos bem tramados se nos vergássemos ao argumento "é legal" para não tentar alterar algo com que não concordássemos. "Torturar animais" é uma coisa abjecta. Não sei se é disso que se trata numa tourada - aliás, julgo que, objectivamente, não o é. As três regras propostas pelo autor parecem suficientes para mitigar a coisa. A objecção que ponho é que levantar o problema na AR trará atrás de si o coro dos fundamentalistas de direita e das madames tão preocupadas com os animais e tão indiferentes ao sofrimento humano em largas regiões do planeta.
As tradições evoluem, ou pelo
As tradições evoluem, ou pelo menos deveriam.
Pessoalmente não gosto das touradas pretensiosas do "pica e foge" a cavalo nas suas fatiotas bordadas a ouro, mas não coloquem no mesmo saco as largadas de touros e os forcados! A festa brava deve ser discutida, mas demonizá-la não, se deixar de existir também não haverá qualquer razão para continuar a criação de touros bravos...
Centenas???? Milhares! Uma
Centenas???? Milhares! Uma mentira deve ser dita tantas vezes até que pareça verdade....
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