Desde o dia 4 de Outubro que se discute quem deve governar. Ouvimos quase tudo sobre esta matéria. Dos argumentos mais estafados sobre a tradição, ao desespero da repetição sobre quem ganhou as eleições, até à declaração de que alguns partidos eram proscritos no que à governação diz respeito.
Ouvimos quase tudo para justificar o estado de negação em que entrou a direita perante os resultados eleitorais que lhe retiraram a maioria, perdendo mais de 700 mil votos, embora concorressem coligados.
Ontem, o Parlamento aprovou a rejeição do Governo PSD/CDS que Cavaco empossou. E fê-lo na plenitude das suas atribuições, como está escrito preto no branco na Constituição e os deputados e deputadas votaram cada um e cada uma por si, como deve ser o exercício do seu mandato.
Bom, mas para a direita, nada disto podia ter acontecido. PS, BE, PCP e Verdes têm a maioria no Parlamento, mas cometeram a ousadia de contrariar a “tradição” e disseram que têm condições para um novo Governo, comprometido com o rompimento do ciclo de empobrecimento dos portugueses e portuguesas.
Tudo estaria bem, se fosse ao contrário: um governo minoritário do PSD/CDS que governaria com o apoio do PS. Tudo estaria bem, seria estável, pois nada mudaria, como se verificou com o programa apresentado.
Dramatizaram, extremaram as posições, os lideres parlamentares do PSD e CDS até saíram para a rua para apoiar uma manifestação (já agora também bastante minoritária, se compararmos com a manifestação da CGTP) e Luís Montenegro terminou a sua intervenção dizendo “vamos ter um governo de alguns deputados e derruba-se o governo que o povo escolheu”.
Encerrou, sintetizando, melhor que ninguém, o pensamento do PSD – a maioria dos deputados/as são “alguns deputados” e o governo do povo é aquele que não tem a maioria. Palavras para quê? É um deputado do PSD…
Outra fileira da argumentação da direita baseou-se nas divergências existentes entre BE, PS e PCP e nos pontos em que não chegam a acordo. Tudo isto abrilhantado com “questões de fundo”, como o secretismo das negociações, a assinatura que não foi em público, os 3 acordos, etc.
Um acordo que não nega divergências, que assume objetivos, que respeita a identidade de cada partido que o subscreve, não é credível?
É exatamente porque assume tudo isto de forma transparente e porque os seus proponentes são absolutamente claros nos objetivos a que se propõem, que este acordo é credível, e nos dá a confiança de ser motor de uma alteração na política e na condição de vida das pessoas.
Artigo publicado em mediotejo.net a 11 de novembro de 2015
