A manifestação convocada pela CGTP foi um sucesso e pode marcar um ponto de viragem no combate contra o uso da injustiça e da violência social como dispositivos de correcção das contas públicas através do empobrecimento selectivo de amplas camadas da população. Mas nada é automático. Importa desdobrar o entusiasmo em conversas, argumentos, persuasão. É fundamental que as pessoas, em particular as mais atingidas pela crise, incorporem a convicção contra-hegemónica de que há alternativas credíveis. É preciso, uma vez mais, questionar o “impossível” das fatalidades fabricadas.
É claro que a manifestação incomoda muita gente. Desde a UGT (completamente rendida ao “tango” do PS/PSD e com uma cúmplice no Governo, a Ministra do Trabalho, a cortar no subsídio de desemprego, por mera ideologia, uma vez que a poupança é irrisória) até aos analistas do costume, as cassandras sanguinárias, espécie de intelectuais orgânicos da especulação financeira internacional.
Mas o êxito impõe responsabilidades: que ninguém tente monopolizar ou conduzir a luta dos trabalhadores; que ninguém resvale para aventureirismos que transformam vitórias em fracassos; que ninguém ouse, como é seu costume, activar a “correia de transmissão”.
Desta manifestação só pode surgir uma CGTP ainda mais activa e autónoma, ciente do muito trabalho por fazer; apostando na acumulação de forças e no diálogo com os movimentos sociais de oposição à ortodoxia financeira; combinando resistência e proposta; construindo as etapas seguintes com o envolvimento de tod@s.
Uma greve geral será necessária. Mas não se “dispara” ao virar da esquina. Há um caminho para lá chegar. Saibamos percorrê-lo, juntando forças.