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E agora, quem paga a crise?

É razoavelmente universal a consideração de que foram os bancos e os especuladores financeiros os responsáveis pela crise que vivemos. Foi a cegueira pelo lucro e a desregulação dos mercados financeiros que criaram as condições para que existisse tamanha irresponsabilidade dos bancos, ao ponto de colocar em risco a economia real. É a esta ganância que temos de agradecer a enorme quantidade de homens e mulheres desempregados em Portugal.

Os homens e as mulheres que foram atirados para o desemprego com o encerramento de empresas e fábricas por todo o país são as primeiras vítimas desta crise. São eles quem já pagou, com o seu posto de trabalho, a primeira grande factura da crise financeira. A segunda factura foi paga por todos nós, com os apoios massivos que os estados deram aos bancos, tapando enormes buracos financeiros e colocando os défices públicos em situação de risco.

Seguindo da consideração que existem culpados para a crise que vivemos, como em muitas outras coisa na vida, seria de esperar que os chamássemos à razão e os obrigássemos a assumir as suas responsabilidades. Afinal de contas, eles é que fizeram a asneira que nós temos de limpar, com um preço que ainda não conhecemos na totalidade, mas já percebemos que será muito elevado.

As notícias recentes trazem-nos uma reafirmação do Bloco Central. José Sócrates e Pedro Passos Coelho reúnem-se numa Santa Aliança que vira baterias contra os portugueses, particularmente os desempregados, para que sejam eles a pagar esta crise.

O que vemos com as palavras de José Sócrates e de Pedro Passos Coelho é que eles têm uma opinião diferente da nossa. Para eles, os culpados da crise são os trabalhadores que ficaram desempregados e, por isso mesmo, são eles que a têm de pagar. Para esse efeito, este Bloco Central une-se para alterar as regras do subsídio de desemprego, para retirar algumas migalhas a quem delas tanto precisa.

Ouvi, há dias, uma música que dizia o seguinte: "os pobres não foram os culpados da crise, porque ela é muito cara". Sendo verdade a afirmação, devo acrescentar que os trabalhadores também não são os culpados da crise, porque já sabem que isso colocaria em risco o seu posto de trabalho. Então, se os empregados (agora desempregados) não são os responsáveis da crise, se já pagaram com a perca do posto de trabalho, porque é que têm de ser novamente sacrificados?!

Quem fica a rir, no meio disto tudo, é quem fez a asneira. Os bancos, mesmo no pico da crise, nunca pararam de apresentar milhões de euros de lucros, com as ajudas dos estados. E, agora, em vez de serem chamados a pagar o arranjo do estrago que fizeram, continuam a ter um tratamento especial. Como é que se pode perceber, por exemplo, que os bancos paguem menos impostos que os restantes portugueses! Qualquer um de nós, que tenha um pequeno negócio, paga taxas de impostos mais altas do que as que são pagas pelos bancos. Porque é que isso acontece quando eles apresentam milhões de euros de lucro por dia? Porque é que os bancos podem continuar a ter um tratamento de favor, quando foram eles os responsáveis por estarmos mergulhados na gravíssima crise em que estamos?

Não podemos aceitar que sejam os desempregados a pagar a crise! Já chega de serem sempre os mesmos a pagar a conta. É hora dos responsáveis por toda esta situação se chegarem à frente. Os bancos que sejam obrigados a contribuir para ultrapassarmos a crise. Estas são as propostas do Bloco de Esquerda, este é um caminho de futuro para Portugal, esta é a Justiça na Economia.

Sobre o/a autor(a)

Deputado, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, matemático.
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