Diabetes 2025: prioridade para prevenção

porJosé Manuel Boavida

06 de janeiro 2025 - 14:18
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Para a APDP, mas também para o país, uma visão centrada na prevenção da doença crónica pode e deve ser uma realidade concretizável. Um Instituto de Prevenção da Diabetes seria a resposta para não vermos a saúde das pessoas só à volta das urgências e das cirurgias.

Prestes a celebrar um centenário de existência, a Direção da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) alerta para o desafio do combate à diabetes com uma visão clara para 2025: agir antes que seja tarde. Num país onde a diabetes se tornou uma epidemia cada vez menos silenciosa, é urgente mudar o paradigma. A APDP tem um plano, composto por duas grandes prioridades que propomos a toda a sociedade e ao Ministério da Saúde, que nortearão o nosso trabalho ao longo do próximo ano.

A primeira prioridade é tão ambiciosa quanto essencial: detetar, para poder apoiar as crianças e os jovens em risco de desenvolver diabetes tipo 1. Como? Através de um rastreio que permita identificá-los precocemente. Em vez de nos limitarmos a intervir reactivamente em caso de consequências, normalmente associadas ao diagnóstico e ao surgimento da doença, o objetivo é intervir antes, pondo fim a internamentos com um impacto traumático enorme que os acompanha ao longo da sua vida. Esta antecipação permitir-nos-á, pela primeira vez, promover um acompanhamento especializado e preparar adequadamente os próprios e as famílias, capacitando-as para a gestão da diabetes tipo 1. Mais do que uma estratégia, com os avanços científicos atuais, pode estar na ordem do dia, a curto prazo, a possibilidade de atrasar (ou até evitar) o surgimento da doença.

A segunda prioridade coloca no centro das preocupações a diminuição dos números de pessoas com diabetes tipo 2. A criação de um Instituto de Prevenção da Diabetes seria a pedra angular desta estratégia: começar a tratar a diabetes antes de aparecer (pré-diabetes) ou nas fases precoces da diabetes, onde a remissão pode ser mais facilmente conseguida. Só assim se pode combater a subida galopante dos números da diabetes, melhorando a qualidade de vida dos portugueses, evitando as graves consequências de uma doença que é a principal causa de cegueira, insuficiência renal, amputações dos membros inferiores, infartos em jovens adultos, de aumento da mortalidade no cancro, doenças respiratórias, ou hepáticas, e aliviando o fardo do nosso Serviço Nacional de Saúde (cerca de 10% do orçamento da saúde). Prevenir é, afinal, investir numa sociedade mais saudável, ativa, produtiva e sustentável.

Paralelamente, não podemos ignorar a questão que afeta milhares de portugueses: o acesso às novas terapêuticas para a perda de peso, fundamental para a prevenção da diabetes. O excesso de peso e a obesidade são o prelúdio de doenças graves, incluindo a diabetes. É necessário reavaliar as políticas de abordagem dos fatores de risco para garantir que ninguém seja excluído devido a dificuldades económicas.

Para a APDP, mas também para o país, uma visão centrada na prevenção da doença crónica pode e dever ser uma realidade concretizável. Um Instituto de Prevenção da Diabetes seria a resposta para não vermos a saúde das pessoas só à volta das urgências e das cirurgias, das complicações evitáveis das doenças crónicas. A esmagadora maioria das doenças crónicas é prevenível. Apostar na prevenção é o único caminho eficaz e justo.

Para 2025 a APDP desafia os decisores políticos a olharem para a saúde com outra lente: a lente da antecipação. Se o futuro pode ser melhor, por que esperar? As sucessivas notícias sobre o alarmante aumento do número de pessoas com diabetes têm de parar!

Artigo publicado em expresso.pt a 31 de dezembro de 2024

José Manuel Boavida
Sobre o/a autor(a)

José Manuel Boavida

Médico, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), dirigente do Bloco de Esquerda
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