(Des)Acordo de Paris

porSilvia Carreira

18 de dezembro 2015 - 21:02
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É possível alterar o sistema antes que ele destrua o planeta, para tal há que estar atento e denunciar, questionar e consciencializar.

A cimeira do clima em Paris terminou, foi feito o acordo que embora seja legalmente vinculativo, não prevê sanções para os países não cumpridores. De notar a ausência no texto de uma programação temporal para a eliminação completa do uso dos combustíveis fósseis.

Por isso estranhei as manifestações efusivas de felicidade e choro de alegria por parte dos envolvidos, será porque tinham mais uma vez conseguido salvar os grandes interesses económicos e escapar com processos de intenções às reivindicações dos grupos ambientalistas?

A forma como nesta COP21 se tentou isentar de responsabilidades o modo de produção capitalista como fator causador da mudança climática é lamentável. É evidente que o capitalismo sendo na sua essência produtivista, busca sempre produzir mais bens apropriando-se e saqueando os recursos naturais de forma bulímica e explorar ao máximo a força do trabalho. O problema climático para este sistema não é visto como em parte provocado pelos próprios, mas sim como “ uma grande oportunidade para novos mercados”.O mercado das energias renováveis, o mercado dos direitos de poluição, a bio agricultura de mercado e por aí fora.

Na sequência desta visão capitalista foi aprovado financiamento a países mais carenciados para criação de rede de energias renováveis, claro que vão comprar aos Países que os financiaram, assim o dinheiro sai por um lado retornado aos países financiadores por outra via.

Os chefes de estado que estiveram na cimeira em nome dos povos e mandatados para chegar a um acordo que de forma efetiva consiga a média global abaixo de 2 graus Celsius (°C) em relação aos níveis pré-industriais e garantir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Afinal ficam as metas atuais que levam a um aumento de cerca de 3ºC, com a promessa que lá para 2020 se vai conseguir melhorar estes valores e encontraram motivos para festejar numa cerimonia com toda a pompa e circunstância.

Durante estes dias muitos foram os avanços e maiores os recuos como no caso do governo da Índia se pronunciou contra a meta de energia 100% limpa e no dia seguinte, a imprensa anunciou uma mudança de posição, fruto das pressões dos ambientalistas ou o caso do lobista da maior empresa de exploração mineira do mundo que se retirou das negociações após a iniciativa de colocação de cartazes por Paris com as fotografias dessas pessoas pedindo para não lhes darem credito ou a identificação pública da Argentina e Arábia Saudita como o maiores sabotadores da negociação fazendo os mesmos terem atitudes mais comedidas.

Do outro lado o movimento justiça climática e os ativistas multiplicaram-se em ações, debates, formações que culminaram nas Linhas Vermelhas dia 12 de Dezembro, onde apesar das ameaças do estado de emergência, mais de 30.000 pessoas fizeram uma grande linha que uniu o símbolo do poder económico Porte Maillot e o Arc de Triomphe símbolo do imperialismo e colonialismo ao longo de 2 km responsabilizando estas atitudes pela crise climática. Ação que se dividiu entre a alegria e o minuto de silêncio com flores erguidas, pelas vítimas das alterações climáticas. A massa impossível de deter moveu-se cortando o trânsito nas ruas de Paris até chegar ao último ponto previsto para as grandes ações desse dia, Shamp de Mars onde foram mais uma vez construídas 3 linhas vermelhas com os ativistas.

A Zona de Ação Climática (ZAC) que teve como centro o edifico Le Centre Quatre, foi o ponto de encontro e de troca da experiências entre partidos progressistas, associações ambientalistas e curiosos que ali acorriam todos os dias. Uma organização exemplar com duas cozinhas populares, pontos de informação, calendário permanentemente atualizado, apoio jurídico, formações e uma preenchida agenda de debates com assembleias-gerais diárias e ações pontuais como a manifestação contra o desemprego e precariedade ou conversas com os sindicatos e a mudança climática.

Sessões como “ Direitos da natureza” ou “ A natureza e a finança”, “Informa-te para te engajar” permitiram a troca de ideias e uma maior informação sobre questões, movimentos e ações de todo o mundo.

É possível alterar o sistema antes que ele destrua o planeta, para tal há que estar atento e denunciar, questionar e consciencializar.

Os recursos não são infinitos, o sistema criou na populações falsas necessidades e fez delas bandeiras de progresso, para estimular a compra de produtos sempre novos projetou peças que é impossível concertar, o mundo do usa e deita fora só beneficia a industria capitalista.

Agir com inteligência vai ajudar a nossa sobrevivência.

Silvia Carreira
Sobre o/a autor(a)

Silvia Carreira

Artista plástica e investigadora. Membro da distrital do Porto do Bloco de Esquerda
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