Cofaco, escuta: as trabalhadores estão em luta!

porZuraida Soares

11 de junho 2018 - 20:05
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As trabalhadoras da Cofaco fizeram um dia de greve para reclamar a progressão na carreira profissional, a luta contra a desigualdade de género e a realização de um contrato colectivo de trabalho.

É bem possível (e, até, aconselhável) que nos indignemos todos/as, ao sermos confrontados com o resultado de um estudo recente, segundo o qual, seja qual for a categoria profissional, os homens ganham sempre mais do que as mulheres ou, dito de outra maneira: as mulheres têm salários inferiores, em todas as profissões, em todos os países da Europa… apesar de serem, em média, mais escolarizadas do que os homens! No nosso país, esta desigualdade gritante é mesmo “bastante acentuada”, acabando, evidentemente, por descambar (aquando da fase tardia da vida activa) em pensões mais baixas, pelo facto das mulheres terem descontado menos, por terem tido salários substancialmente inferiores.

Dizer que este fenómeno é, no mínimo, indecentemente discriminatório, alivia a indignação e a alma, dando também um sinal q.b. do nosso pendor feminista.

Porém, a coisa começa a complicar-se um pouco mais, quando, em vez de estudos abstractos e teóricos (não obstante a sua objectiva verdade), ouvimos um conjunto de gritos de revolta, mesmo ao nosso lado, de dezenas de mulheres de carne e osso, com um nome, um rosto e uma história de vida. É o caso das trabalhadoras da Cofaco, em Rabo de Peixe que, esta semana, fizeram um dia de greve para reclamar a progressão na carreira profissional, a luta contra a desigualdade de género e a realização de um contrato colectivo de trabalho. A justeza e a urgência destas reivindicações explicam-se em poucas palavras: depois de trabalharem 20, 30, 40, 50(!) anos, na mesma empresa, jamais lhes foi dada a possibilidade de progredirem e de alcançarem um outro vencimento que não seja o salário mínimo regional. Ou seja, se há 20, 30, 40, 50 anos, entraram na fábrica com a categoria de ‘manipuladoras de peixe’, assim permanecerão, ano após ano e para todo o sempre, independentemente das suas capacidades, competências, profissionalismo ou dedicação!

Ora, neste caso concreto, já não estamos só a falar de descriminação, ou de desigualdade, ou de menorização do trabalho feminino: Não, não! No caso das trabalhadoras da Cofaco, estamos é mesmo a falar de EX-PLO-RA-ÇÃO laboral, pura e dura! Bem sei que a Inspecção Regional do Trabalho anda sempre muito atarefada a fingir que não vê, não ouve e não conhece qualquer tipo de situação anómala, no universo laboral regional mas… há limites, creio eu.

Dar-se-á o caso da Cofaco estar a atravessar dificuldades financeiras sérias, no mínimo, desde 2002, altura em que as suas funcionárias começaram a reivindicar justos aumentos salariais?! Nãããã…definitivamente, não é o caso. Estamos a falar de uma empresa com mais de 100 anos de tradição, presente em mais de 30 países, com mais de 600 trabalhadores, com 50 milhões de produção latas/ano, com mais de 66 milhões de euros de facturação anual e líder, incontestada, de conservas de peixe em Portugal! Ah! E mais importante ainda: falamos de uma empresa apoiada, em dezenas de milhões de euros, pelos governos da república e regional, mais uma vez, dinheiro de todos/as nós.

Da Horta à Madalena do Pico, daí a Rabo de Peixe, passando pela Figueira da Foz, Algarve e Peniche…a Cofaco soma e segue! O que diminui é o número de trabalhadores/as…

Zuraida Soares
Sobre o/a autor(a)

Zuraida Soares

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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