A clarificação do PS

porJoão Teixeira Lopes

03 de outubro 2012 - 15:45
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A direção do PS clarificou a sua posição. Certamente muitos socialistas se questionam sobre o absurdo dessa “abstenção alternativa” de que fala Zorrinho.

A história é conhecida: o PS ameaçou com uma moção de censura por causa da TSU. Apesar do recuo do governo não significar qualquer alteração na monstruosa dimensão da austeridade, representando somente um taticismo que resulta da pressão social, o PS retirou rapidamente a ameaça. A moção de censura antes de o ser já era.

Ora, o Bloco resolveu corresponder ao sentimento generalizado do país e avançou com a sua própria moção, não sem antes ter feito os possíveis para que o PS concordasse num texto firmemente condenatório do Governo. Urgia uma definição. A clarificação surge nas palavras de Seguro: Para a direção do PS, há três questões inegociáveis: “Portugal deve continuar na União Europeia e na zona euro, deve honrar as metas do memorando e deve pagar a dívida. Quem não concordar com isto não pode contar com qualquer convergência do PS” (Seguro dixit). Nós concordamos com a manutenção na União Europeia e na zona euro, mas torna-se hoje absolutamente clarividente que o memorando é um instrumento do mais violento fanatismo ideológico ultraliberal e que a dívida tem de ser renegociada quanto antes, porque parte dela é ilegítima e pura agiotagem.

A direção do PS insiste no caminho de destruição do país e do estado social, de que hipocritamente se diz defensora. Não há aqui conciliação possível: o memorando está a desenrolar-se aos nossos olhos, com os efeitos que todos conhecemos. Não se trata sequer de “dosear” a austeridade do tipo: “cortar 5% dos salários e liberalizar os despedimentos é bom, mas o subsídio já é demais”: as receitas do memorando levariam o PS no Governo a resvalar, com maior ou menor rapidez, para a mesma espiral de medidas em que nos encontramos.

A direção do PS clarificou a sua posição. Certamente muitos socialistas se questionam sobre o absurdo dessa “abstenção alternativa” de que fala Zorrinho.

João Teixeira Lopes
Sobre o/a autor(a)

João Teixeira Lopes

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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