Os últimos dias têm sido profícuos na utilização do termo “banha da cobra”, por um lado porque um dos pastores da igreja universal do reino do empreendedorismo foi desmascarado perante a opinião pública, por outro lado a demissão de um dos maiores vendedores de banha do nosso país e ainda o chumbo e as alternativas à banha da cobra que é o orçamento de estado.
Mas para quem já está farto do termo “banha da cobra” e de tanta banha e banhada, que se prepare porque vêm aí as eleições autárquicas.
Começam a surgir as primeiras candidaturas e grupos de influência, mas principalmente começam a ver-se algumas movimentações como buracos das estradas com capa de alcatrão, obras publicas prestes a inaugurar. Já cheira a pré campanha, e pode ser que este reboliço atenue o desgaste provocado pelas portagens nas ex scut, ou pela reorganização do poder local, ou pelo encerramento de escolas, postos de saúde, de tribunais, pela falência de inúmeras empresas, desemprego… E se não resultar manda-se vir para a campanha um porco no espeto…
Pelo que me tenho apercebido ao longo dos anos, as eleições autárquicas aqui pelo interior (na maioria dos casos) não passam de festas e festarolas onde se mistura a banha de um porco no espeto com a banha da cobra que o candidato tem para vender em troca de votos com um toque de música pimba, e está feito!
E os programas? E propostas? E objetivos? E estratégias há?
Vai havendo mas o que os grandes partidos oferecem maioritariamente são brindes, festas com comida e bebida e sobretudo discursos de vaga retórica com promessas feitas ao vento, que este ano vão incidir principalmente sobre a empregabilidade.
Claro que o debate vai incidir sobre empregabilidade, basta ver as taxas de desemprego em Castelo Branco, Vila Real Évora, Guarda havia de incidir sobre o que?
Que venham esses programas eleitorais e essas propostas políticas para restaurar o tecido social rural, porque este problema não se resolve com os buracos das estradas, hortas comunitárias, paisagens bonitas e saudosismos rurais, muito menos nos investimentos de “bater punho” porque isso dos investidores, empreendedores, microqualquercoisa (ou lá como chamam os empresários agora), é para quem pode e não para quem quer…
Mas se as eleições autárquicas são como festarolas, com banha do porco e da cobra e discursos de salão é porque exploram as fraquezas dos partidos políticos que têm necessidade de apresentar várias candidaturas e vários candidatos. Mas principalmente a necessidade de agradar ao público - alvo dando-lhe o que ele quer, brindes, pão e circo.
Mas a meu ver o principal culpado deste problema é a abstenção e aqueles que com potencial se alheiam da participação política deixando-a entregue aos Relvas e mini Relvas que vão proliferando na atividade política. E apesar de toda a realidade ainda conheço quem se orgulhe de não votar, quem se orgulhe de viver à parte da realidade política! Aristóteles dizia: “O Homem é um animal político”, lamento que hoje tantos jovens e adultos se alheiem da vida política, que se acomodem, encolham os ombros e deixem para os outros as decisões políticas.
Bertolt Brecht afirmou num dos seus poemas: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, dos sapatos e dos remédios dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito para dizer que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, corrupto e lacaio… “
Concordo também com uma frase que vi estampada num cartaz no dia 2 de Março: “ Um povo que elege incompetentes não é vítima, é cúmplice!”.