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A austeridade só cria mau ambiente

Será a proteção do ambiente em que vivemos, do qual depende a nossa qualidade de vida, um luxo impróprio de um país que pretende recuperar de uma crise económica? Este governo acha que sim, como acha o mesmo dos direitos do trabalho, das liberdades democráticas e da dignidade do país.

Neste ano, o governo de Passos Coelho pretende dar a maior machadada de sempre na legislação ambiental, com várias mudanças legislativas em cima da mesa. A liberalização da cultura de eucalipto pretende dar à indústria da celulose e da pasta de papel um acesso facilitado à sua matéria prima, à custa da destruição da floresta, de zonas naturais e de solos agrícolas. A revisão da Lei de Bases do Ambiente tem como fim desregulamentar a política de ambiente. O fim da Reserva Ecológica Nacional deixará expostos à especulação territórios de elevado valor ambiental. A simplificação do licenciamento das atividades industriais abrirá o caminho a todo o tipo de abusos, permitindo que a indústria possa contornar regras básicas de proteção ambiental.

As políticas de austeridade também deixam a sua marca suja no nosso ambiente. Ao tornar o transporte público muito mais caro e ao desativar linhas de ferrovia, o governo abre o caminho a uma utilização acrescida do transporte individual, com consequências negativas para o congestionamento das cidades e das estradas e para a qualidade do ar. Ao recusar-se a empreender uma política de reabilitação urbana acompanhada do isolamento térmico de edifícios, tal como é proposto pelo Bloco de Esquerda, o governo condena-nos a um futuro de desperdício de energia, com maior recurso à queima de carvão e de gás natural e à construção de barragens. A ausência de políticas de transportes e de energia orientadas para a redução do consumo de energia e a utilização de fontes de energia limpas paga-se duplamente, com a degradação do ambiente e o aumento da despesa das famílias.

Os efeitos destas políticas desastrosas são mais que suficientes para compensar a relativa melhoria dos indicadores ambientais resultantes da redução do consumo. Redução que, saliente-se, decorre não de uma racionalização do consumo mas do empobrecimento da população. Uma redução do consumo, portanto, que é desigual, injusta e imposta de forma autoritária.

Neste governo, o Ministério do Ambiente não é mais que um gabinete de destruição do ambiente e a ministra Assunção Cristas não é mais que uma lacaia dos interesses da indústria. Só há uma solução para tanta incompetência: que se demita e que leve o governo consigo.

Sobre o/a autor(a)

Ricardo Coelho, economista, especializado em Economia Ecológica
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