Dizem que, presunção e água benta, cada um/a toma a que quer. E dizem bem, porque eu hoje vou tomar aquela que me der na real gana... e vou tomá-la, começando por confessar que estou para aqui, sentada, frente ao computador, sabendo exatamente o que quero dizer, mas sem encontrar as palavras certas para o fazer. Ora, manda a verdade que se diga que esta não é uma situação habitual, em mim. Sobretudo – e por sorte! – porque o chamado ‘politicamente correto’, nem nunca me assistiu, nem nunca me preocupou. Sempre parti do princípio de que as coisas que são para serem ditas, devem ser ditas... sem apelo, sem agravo, sem paninhos quentes e hipócritas, sem pensos rápidos para conter as feridas. Simplesmente ditas, com o grau de acutilância que elas próprias exigem e a clareza, a tolerância, a serenidade e até a gentileza que nos impomos.
Mas, e então, o que quero eu dizer(te)?
Quero começar por te dizer que deste uma lição de tolerância política e de grande solidariedade, quando, em outubro do ano passado, em plena Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e enquanto líder parlamentar do partido maioritário, me dirigiste as palavras mais sinceras, mais amigas, mais cúmplices e mais inesquecíveis que uma adversária política - eu! – tinha ouvido. E, imagina tu, fiquei com a convicção de que as terias dito na mesma, não se dera o caso de eu estar de saída do combate político puro e duro.
Quero dizer-te, também, que foste, és e serás um dos adversários políticos, com quem a disputa de argumentos e a esgrima de contraditórios mais prazer me deu e mais elevou o meu patamar de exigência, no combate político, antes e depois das nossas contendas.
Repetir – porque to disse muitas vezes – que o teu sentido de humor, corrosivo, certeiro e, voluntariamente, audível (para que os apartes habituais corassem de vergonha), nunca foram vulgares, ou rasteiros, ou até mesmo ordinários, como alguns são. Bem pelo contrário! Ouso dizer que a inteligência e a fina ironia que transportavam, eram capazes de desarmar o/a mais empedernido/a dos/as opositores/as. Não me desarmaste, é certo, mas fizeste-me soltar sonoras e gostosas gargalhadas, mesmo quando as tuas flechas me eram dirigidas.
Dizer-te ainda que muito gostaria – e gostarei! – de poder continuar as nossas breves conversas sobre família e filhotes e, sobretudo, sobre a dificuldade de transmitir aos mais velhos o quanto os amamos, mesmo que a nossa presença física seja mais fugaz do que permanente.
Por tudo isto, André – e por outras coisas que este reduzido número de palavras, com espaços, não me permite dizer – peço-te que não desistas de lutar pela vida que te espera, pelos/as amigos/as que não abrem mão de ti, pela tua linda, doce e amorável família.
Vem daí, Homem, vamos discordar, vamos combater as ideias um do outro, vamos rir de nós próprios, vamos “comer Natália” e dizer com ela... “quem mata a vida sou eu!”.
Nota: Este artigo, publicado no Açoriano Oriental, foi escrito na quarta-feira, dia 17 de julho de 2019
