João Camargo

João Camargo

Investigador em Alterações Climáticas. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

A luta pela justiça climática não pode parar porque os efeitos da crise climática não param. Esta luta terá de intensificar-se, porque a chantagem dos próximos tempos será monumental.

Não há economia nem empregos no colapso climático e a nossa prioridade é salvar as condições que permitam um futuro. Não vamos ficar a rir-nos enquanto constroem a nossa tragédia colectiva.

Em Davos como em Pequim, a finança sustenta a crise climática, garantindo os investimentos catastróficos do sistema capitalista fóssil.

Sobre Portugal pairam ameaças similares às que se materializam na Austrália e as reformas florestais coladas a cuspo não aguentarão o mais ligeiro abanão.

Neste momento de escuridão, Greta é um símbolo que nos permite ver um futuro, mas são precisos milhões de mãos e cabeças para construí-lo.

Entre acreditar em alterações climáticas e defender acções concretas que permitam resolvê-las há ainda muita diferença. A crise climática é uma crise política e não estamos todos do mesmo lado.

As centrais a carvão do Pego e de Sines são responsáveis por até 20% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa. O seu encerramento é um passo em frente na efectiva descarbonização.

Recordando Walter Benjamin, talvez a revolução não seja a locomotiva da história, mas o travão de mão quando a história nos empurra para o colapso. Hoje voltamos à rua. Amanhã também.

Com o crescimento eleitoral expectável de partidos verdes, o centro aproxima-se de algumas reivindicações de índole ambiental. Mas será isso suficiente para travar o colapso climático? Dificilmente.

Nesta corrida para o precipício a mediocridade e a cobardia política serão factores tão importantes quanto a negação da ciência, em países muito mais importantes e com muito mais responsabilidades do que Portugal.