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Defende a profissão

Cerca de 500 professores juntaram-se nas Caldas da Rainha no passado dia 23 de Fevereiro e decidiram criar uma associação; que se virá a chamar Associação em Defesa do Ensino ou Associação em Defesa da Educação.
O movimento foi lançado inicialmente por professores de Mafra, Sintra e Cascais.
O seu blogue Defende a profissão foi decisivo na criação deste movimento, de que publicamos aqui o manifesto.

MANIFESTO

Os professores estão a atravessar o momento mais negro da sua vida profissional desde o 25 de Abril. Com um pacote legislativo concebido em sucessivas fases, começando pelo novo Estatuto da Carreira Docente e culminando com o novo modelo de gestão escolar, passando pelo Decreto Regulamentar da avaliação de desempenho, a actual equipa do Ministério da Educação desferiu um golpe profundo na imagem social dos professores, na sua identidade enquanto grupo profissional e nas condições materiais e simbólicas necessárias para que os mesmos se empenhem na qualidade do ensino. A um sentimento de enorme frustração soma-se hoje a insegurança quanto ao futuro profissional, uma insegurança decorrente de todos os mecanismos de fragilização da carreira e de instabilidade de emprego que o governo actual tem vindo a introduzir.

Torna-se agora cada vez mais evidente que os professores deste país foram as cobaias de um ataque aos direitos laborais, segundo uma receita de efeitos garantidos: uma campanha inicial de difamação orquestrada com a cumplicidade de uma comunicação social subserviente, que visou justificar, no plano retórico e propagandístico, a redução sistemática de direitos no plano jurídico. Hoje é também óbvio que este programa teve como objectivo essencial a quebra do estatuto salarial dos professores, que passaram a trabalhar mais pelo mesmo dinheiro, que viram a progressão na carreira arbitrariamente interrompida, e que foram, desse modo, uma das principais fontes drenadas pelo governo para satisfazer a sua obsessão de combate ao défice.

Hostilizados por uma opinião pública intoxicada e impreparada para reconhecer aos docentes a relevância da sua profissão, desprovidos dos meios legais e materiais que lhes permitiriam dignificar o seu trabalho, é com fatalismo, entremeado por uma revolta surda, que os professores deste país encaram hoje o futuro mais próximo. Muitos consideram o Estatuto da Carreira Docente como um facto consumado, procurando adaptar-se-lhe o melhor possível. No entanto, as piores consequências desse Estatuto só agora começarão a revelar-se, e há sinais de que a ofensiva do governo contra os professores e contra a escola pública não chegou ainda ao fim:

·         Este ano vai ter início o processo de avaliação do desempenho, pautado pela burocratização extrema, por critérios arbitrários e insuficientemente justificados que poderão abrir a porta para acentuar o clima de divisão e a quebra de solidariedade entre os professores, para «ajustes de contas» adiados, para a perseguição aos profissionais que se desviem da ideologia pedagógica dominante, para a subordinação dos resultados dos alunos à demagogia ministerial do sucesso escolar compulsivo.

·         O governo prepara-se para aprovar, sem discussão pública que mereça esse nome, um novo modelo de gestão escolar que se traduz pela redução ainda maior da democracia nos estabelecimentos de ensino, já antecipada ao nível do Estatuto da Carreira Docente, pela diminuição drástica da influência dos professores, atirados para uma posição subalterna nos órgãos directivos, pela sua subordinação a instâncias externas, muitas vezes movidas por interesses opostos ao rigor e à exigência do processo educativo.

·         Finalmente, o governo tem também a intenção de suprimir as nomeações definitivas para a grande maioria dos funcionários públicos, iniciativa que terá particular incidência numa classe docente cuja garantia de emprego já está, em muitos casos, consideravelmente ameaçada.

Tudo isto deveria impor, desde já, a mobilização dos professores e o abandono de uma postura de resignação. Não há processos legislativos irreversíveis. Por outro lado, não podemos esperar por uma simples mudança de ciclo eleitoral ou de legislatura para que seja invertido o ataque à nossa condição profissional. Ninguém, a não sermos nós, poderá lutar pelos nossos direitos.

Por tudo isto, e para contrariar a atitude cabisbaixa que impera entre a classe docente, consideramos importante lançar um conjunto de iniciativas, algumas delas faseadas, outras que poderão ser desenvolvidas em paralelo. Assim, propomos:

    apoiar o movimento, que começa a surgir na blogosfera dedicada à nossa profissão, no sentido de se alargar o prazo de discussão do novo modelo de gestão escolar, e organizar nas escolas espaços de debate desse projecto-lei, tendo o cuidado de o situar no quadro mais geral dos constrangimentos legislativos a que hoje se encontra sujeita a nossa actividade profissional;
    promover, nas diferentes escolas e nos agrupamentos de escolas, a discussão sobre as condições de aplicação do Decreto que regulamenta a avaliação de desempenho dos professores, tendo em conta a necessidade de se fixar critérios mínimos de rigor e de justiça nessa avaliação, e considerando que, se a avaliação dos alunos tem sido objecto de muita elucubração teórica, as escolas se preparam para avaliar os docentes sem ponderarem devidamente as dificuldades científicas e deontológicas que semelhante processo suscita;
    encetar um processo de contestação do Estatuto da Carreira Docente nos tribunais portugueses e nas instâncias judiciais europeias, considerando que esse diploma atinge direitos que não são simplesmente corporativos, mas que constituem a base mínima da dignificação de qualquer actividade profissional.
    pressionar os sindicatos para que estes retomem os canais de comunicação com os professores e efectuem um trabalho de proximidade junto destes, o qual passa pela deslocação regular dos seus representantes às escolas a fim de auscultar directamente os professores e de discutir com eles as iniciativas a desenvolver;
    contactar jornalistas e opinion-makers que, em diferentes órgãos de comunicação, tenham mostrado compreensão pelas razões do descontentamento dos professores e apreensão perante o rumo do sistema de ensino em Portugal, no intuito de os incentivar a prosseguirem com a linha crítica das suas intervenções e de lhes fornecer informação sobre o que se passa nas escolas;
    propor políticas educativas que se possam constituir em defesa de uma escola pública de qualidade, que não seja encarada como simples depósito de crianças e de adolescentes e como fábrica de «sucesso escolar» estatístico, políticas capazes de fornecer alternativas para as orientações globais do Ministério da Educação e para as reformas mais gravosas que o mesmo introduziu na nossa profissão.

(...)

Neste dossier:

Dossier Educação em polvorosa na blogosfera

Os professores fazem ouvir a sua revolta em todo o país. Na blogosfera a indignação transbordou: denúncia da política de educação do governo, defesa da escola pública, debate de ideias, mobilização de vontades. Neste dossier, o esquerda.net divulga posts e blogues da indignação.

Lista de Blogues

Apresentamos aqui uma listagem de 41 blogues, onde pulsa a indignação.

O exemplo de um Instrumento de Registo lamentável

Repare-se... no item "atitudes": (Verbaliza a sua insatisfação / satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo / na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares:
Incluir itens expressos desta maneira é estimular a caça às bruxas e impor, de forma autoritária, a censura pedagógica e o diktat oficial do politicamente correcto.

Assim como que uma espécie de diarreia legislativa

A Ministra da Educação divide os professores, toma medidas que lançam uns professores contra outros e dá a entender à opinião pública que os professores não querem ser avaliados, faltam muito, estão agarrados à escola de antigamente, etc.
Publicada por Ramiro Marques

Paradoxo

Nunca aqui neste blog se afirmou que todos os professores eram excelentes ou muito bons. Pelo contrário, já afirmei muitas vezes que há professores incompetentes, como em qualquer profissão há incompetentes.
Cartelado por brit em O Cartel

Professores de luto na escola

António Duarte Morais, do Agrupamento de Escolas de Eixo, escreveu numa carta a todos os professores: «todos os dias irei para a escola vestindo uma T-Shirt preta com a seguinte inscrição em letras brancas na parte da frente: "Estou de luto pela Educação" e na parte detrás da mesma "Estou em luta pela Educação".

Trabalho, Suor e Lágrimas

Orgulho-me deste trabalho, feito com muito esforço e dedicação...
Hoje não seria capaz de o iniciar e de o fazer. Não teria tempo.
E isso faz de mim uma professora indignada que participará, pela primeira vez, numa manifestação de rua, no próximo dia 8 de Março, em Lisboa.
Basta.

Dos factos e das evidências para compreender o tempo que passa

Para compreender o facto evidente de um grande número de professores (ninguém sabe ao certo quantos, que percentagem....) estar desalentado, esgotado, descrente e descontente, é preciso lembrar um conjunto de decisões que intensificaram, desautorizaram, retiraram direitos e limitaram severamente as expectativas profissionais.

Ensino especial... puxei por um fiozinho e pronto, não consegui conter a teia

Parece-me também leviano achar que com umas horas de formação (que nunca podem ser muitas... está onde o tempo?) ficamos preparados para acompanhar qualquer tipo de diferença (e de diferença dentro de cada diferença), à medida que for sendo necessário lidar com elas. É não ter a noção da realidade. É não conhecer, ignorar, desrespeitar o direito a uma educação de qualidade para todas as crianças. TODAS. É disso que trata a inclusão.

Pela defesa do ensino artístico

Há exactamente um ano atrás o MovArte é constituído para denunciar e travar as iniciativas da presente ministra da educação de "reformar" e "democratizar" o ensino artístico. Depois de um ano de mobilização e apresentação de propostas alternativas por parte do MovArte a ministra da educação, sem consultar professores, pais e alunos, apresentou esta semana a sua vontade de extinguir unilateralmente o ensino supletivo.

Os “recados” de Sócrates aos professores

Apoiei Sócrates para Secretário Geral, sou militante e autarca do PS e quero que o partido ganhe as eleições em 2009. Mas também sou professor e técnico de educação (...)
Nestas duas qualidades tenho obrigação de levantar a voz quando os professores são ofendidos e de chamar a atenção para o que, em minha opinião e na opinião de muitos mais, está a ser feito de errado em matéria de reformas educativas (...)

Manifesto Escola Pública pela Igualdade e Democracia

A Escola Pública é uma conquista de que a esquerda só se pode orgulhar. Mas esta conquista está hoje esvaziada de quaisquer valores emancipadores. Atacada por todos os lados pela Direita e pela agenda neoliberal, a escola pública está em crise.

Dúvidas

Gostaria de saber, Senhora Ministra, quando é que eu vou ter tempo e sanidade mental para poder preparar convenientemente as minhas aulas, quando é que eu vou ter tempo para corrigir os testes e fichas de trabalho e trabalhos dos meus alunos...

A Legislação Como Truque Político: O Novo Modelo de Gestão

É sempre emocionante observar a forma de legislar do ME quando tenta fazer aquilo que não quer que se perceba que está a fazer. É sempre interessantes analisar, preto no branco, a fórmula que o ME imaginou para transformar 50% em menos de 50%, enquanto dá a sensação de ser mesmo 50%. Isso e outros detalhes.

O Não Professor do Ano

Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações...

Defende a profissão

Cerca de 500 professores juntaram-se nas Caldas da Rainha no passado dia 23 de Fevereiro e decidiram criar uma associação; que se virá a chamar Associação em Defesa do Ensino ou Associação em Defesa da Educação.
O movimento foi lançado inicialmente por professores de Mafra, Sintra e Cascais.
O seu blogue Defende a profissão foi decisivo na criação deste movimento, de que publicamos aqui o manifesto.